Oficinas de dança afro e produção de turbante, grafite, roda de capoeira, corte de cabelo e maquiagem foram algumas das atividades oferecidas para as internas e internos do Complexo Penitenciário Lemos de Brito durante esta terça-feira (24). A ação foi promovida pelas secretarias de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), da Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) e de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap), como parte das ações promovidas pelo Novembro Negro.
Durante a manhã, foram atendidas cerca de 50 internas sentenciadas e apenadas. Cumprindo pena de 23 anos por sequestro e assalto à mão armada, a jovem B.S participou com entusiasmo das oficinas, principalmente a de dança afro, modalidade que aprendeu quando ainda estava em liberdade, no bairro do Curuzu. “Hoje foi um dia muito especial, me senti muito valorizada com essas oficinas. Sou negra e a dança afro está no meu sangue”.
A superintendente de Apoio e Defesa aos Direitos Humanos da Secretaria de Justiça Social, Anhamona de Brito, ressaltou que “é preciso pensar em criar ações contínuas onde o Estado possa levar políticas de qualificação profissional e de valorização das pessoas em situação prisional, de modo a garantir o acesso aos direitos humanos de forma integral”.
O encontro também contou com a parceria da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), do Ministério Público Estadual (MPE), da Defensoria Pública do Estado (DPE), da Ouvidoria Geral do Estado (OGE), do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra (CDCN) e do Conselho Estadual de Juventude (Cejuve). Também participaram da atividade o ouvidor geral do Estado, Yulo Oiticica, a vice-presidente do CDCN, Mãe Jaciara Ribeiro, e a defensora pública Fabíola Margherita.
Ala masculina
Na parte da tarde foi a vez dos internos de um dos módulos do Complexo Penitenciário Lemos Brito participarem, simultaneamente, de diversas atividades. O grafiteiro Júlio Costa acompanhou os internos em uma ação coletiva de grafitagem que não impunha limites nem amarras aos participantes. Foi dada a cada um a condição de se manifestar e expressar seus desejos e emoções. “Eu procuro respeitar a vontade artística deles, sem qualquer interferência”, disse Júlio.
Os apenados também passaram por sessões de corte de cabelos que foram personalizados pelo cabeleireiro Oliver Santos, que atendeu aos mais variados pedidos de corte. “Estou achando esse momento importante, porque precisamos nos expressar”, disse o interno Aran Santos, 25.
A ouvidora Geral da Defensoria Pública, Vilma Reis, ressaltou a importância da atividade na penitenciária, em alusão ao Dia da Consciência Negra, pelo fato de os presídios brasileiros contarem com um grande número de pessoas negras, vindas de camadas mais pobres da sociedade. “Precisamos interromper esse ciclo. Se não for possível que todos vocês saiam daqui, que pelo menos seus filhos não entrem”, sinalizou, ao se referir à importância de o Estado brasileiro garantir direitos e cidadania à população negra.
A programação seguiu com uma apresentação de capoeira regional realizada pelos próprios internos da unidade. No final, integrantes da banda de reggae Cão de Raça fizeram uma apresentação para os internos. Um dos mais entusiasmados com a programação, o interno Antônio Luís Santos, 47, falou sobre a importância de quebra de paradigmas e preconceitos enfrentados pela população carcerária. “As pessoas precisam entender que atrás dos muros das prisões não existem apenas pessoas desprovidas de sensibilidade do valor da vida humana”, disse.
SECOM