Por Léo Rodrigues – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro
Cientistas da Universidade Vanderbilt, em Nashville (EUA), têm se mostrado animados com os resultados dos estudos realizados com os medicamentos que estão desenvolvendo para combate à covid-19 em parceria com a farmacêutica inglesa AztraZeneca. Tratam-se de anticorpos monoclonais, que estão se consolidado como mais uma possibilidade promissora para responder à pandemia.
“Estamos muito otimistas. Acreditamos que eles poderão se tornar uma ótima solução”, disse o imunologista James Crowe, durante 5º Simpósio Internacional de Imunobiológicos, evento organizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ele participou hoje (4) de um painel que discutiu como a pandemia tem mudado a indústria de biofármacos. “Assim como ocorre com as vacinas, temos experimentado uma velocidade extraordinária nas descobertas sobre anticorpos monoclonais”, disse.
Os anticorpos monoclonais são produzidos em laboratório e são largamente utilizados na terapia de algumas doenças, como alguns tipos de câncer. Há duas semanas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso emergencial para o tratamento de covid-19 de um medicamento desenvolvido pela farmacêutica norte-americano Regeneron. Ele combina dois anticorpos monoclonais: o casirivimabe e o imdevimabe. A administração por infusão intravenosa está permitida para pacientes que tenham a doença confirmada por exame laboratorial e alto risco de progredir para quadros graves. O uso do medicamento contava também com o aval da Food and Drug Administration (FDA), agência federal dos EUA.
Fase 3
Crowe apresentou detalhes da evolução da pesquisa da Universidade Vanderbilt, que está na reta final dos testes clínicos de fase 3. O estudo começou usando amostras do sangue de pessoas que foram contaminadas no final de dezembro de 2019 em Wuhan, cidade chinesa que detectou o primeiro surto de covid-19. As amostras foram coletadas em março de 2020, quando os voluntários já haviam se recuperado da doença. Os anticorpos foram detectados, os genes foram sequenciados e, a partir deles, foi feita a produção de DNA sintético.
Milhares de anticorpos monoclonais recombinantes foram desenvolvidos e submetidos a um estudo para saber quais deles eram capazes de inibir o coronavírus. A partir dessa seleção, iniciou-se o teste com camundongos em abril de 2020.
“Posteriormente passamos para um modelo de primatas. Os animais receberam os anticorpos monoclonais e foram inoculados com o coronvírus. Fizemos o teste para detectar o coronavírus no nariz e nos pulmões e não encontramos nenhuma única molécula de RNA. E o grupo de controle tinha bastante. Foi o sinal o verde”, conta Crowe.
Os testes clínicos estão utilizando um coquetel com dois anticorpos monoclonais. Segundo o imunologista, separados eles já deram bons resultados e juntos parecem atuar em sinergia. Ele afirma que uma vantagem do medicamento em desenvolvimento é a possibilidade de aplicação de uma única injeção intramuscular, não sendo necessária a administração intravenosa. “Parecem também muito bons contra as variantes de preocupação conhecidas até agora”, acrescentou. O sucesso da pesquisa levou o governo dos EUA a reservar US$ 486 milhões para financiar o desenvolvimento dos medicamentos se os estudos forem bem sucedidos.
Vacinas
Mais cedo, em outro painel, a geneticista Ana Tereza Vasconcelos também destacou os bons resultados das vacinas contra as variantes conhecidas. Ela é pesquisadora do Laboratório de Bioinformática do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). Vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o LNCC tem se dedicado ao sequenciamento de genomas e identificação das mutações do coronavírus.
Vasconcelos explicou que existem as variantes de preocupação, que são as que ampliam a transmissibilidade ou a frequência de formas graves da doença que demandam hospitalizações, e as variantes de interesse, a partir das quais são mapeados marcadores genéticos específicos que podem ser motivo de atenção. Atualmente, há três principais variantes de preocupação, uma delas originada no Brasil, conhecida como p1. “Até esse momento, não parecem prejudicar a ação da vacina”, afirmou a geneticista.