Por Luiz Carlos Suíca*
O Partido dos Trabalhadores precisa fazer o debate, em qualquer que seja a esfera, com a inclusão sempre da militância, dos movimentos sociais e sindicais e das frentes de luta por liberdade e pelo restabelecimento da democracia. A juventude está com disposição e deve assumir protagonismo – que foi dado, justamente no momento em que o PT esteve no governo federal. Em Salvador, as disputas interna e externa seguem sendo travadas sem alardes. E tem algumas figuras que ficam dizendo e eu sou uma delas – que não precisa apenas um projeto de sociedade. É preciso ter nome, e como qualquer outro partido, o PT precisa ter quem vai construir o projeto político.
Temos exemplos de ações e estratégias bem-sucedidas em vários estados, no governo federal, por exemplo, fizemos o ProUni, melhoramos o Fies, o Minha Casa, Minha Vida, Luz para Todos, e tantas outras políticas que marcaram o modo petista de governar. Mas faltou fiscalização em tudo isso. Precisamos pegar esses programas que deram certo e ter um ato de fiscalização maior agora. Em Salvador, o que não falta é projeto para aplicar e temos vários exemplos disso. O governo estadual entendeu e tem aplicado, por exemplo, recursos em mobilidade urbana, diminuindo o estresse que é o trânsito na capital.
Para administrar Salvador, o PT tem vários nomes e temos sim de renovar. Mas quando falamos em renovação, falamos de uma figura que fez um grande trabalho e possa passar para outros espaços como Moisés Rocha, por exemplo. E se perguntar a ele, ele vai dizer de mim. Como estou vereador e já cumpri um papel importante enquanto edil petista, posso muito bem ir para outro espaço, isso é a política. E é tudo com base em fundamentos, em serviços prestados, não em devaneios.
Para os que já estão calejados no processo petista, que se tratam como ‘cabeças pensantes do partido’ vai ser difícil abrir mão para apoiar outro nome que não seja do PT ou que esteja vindo para o partido, em tão pouco tempo, para atravessar e passar na frente de todos os nomes que o partido tem. Alguns precisam mesmo ser limados, chega de atraso. O PT precisa seguir em frente. Temos que dá espaço para outras figuras surgirem. Defendo uma candidatura negra. Mas o partido parece se debruçar sempre em torno de um branco e rico. Guilherme Bellintani, por exemplo, é novo porque tem dinheiro e é branco? Enquanto isso, o nosso povo está morrendo, o PT está sendo atacado e precisa reagir imediatamente.
Tenho um carinho enorme pela direção do PT de Salvador. Sei da importância da sigla na vida dos trabalhadores e das trabalhadoras. Temos de respeitar as instâncias estabelecidas em convenção pelo colegiado maior do partido. Por exemplo, Salvador precisa ter autonomia assim como os outros municípios precisam. As direções municipais devem ter poder de decisão. Em Boa Vista do Tupim, onde tenho inserção, o partido é comandado por uma mulher. Lá eles têm buscado ter autonomia e voz nas decisões. Devemos esquecer aquele período onde tudo era tratado com picuinha e debates estéreis, que nunca chegam a lugar algum, aliás até chegam, mas é melhor nem comentar.
Temos ainda o diretório de Feira de Santana, que deve querer um candidato lá também, e esse candidato deve ser o branco e rico do Zé Neto, que nunca ganha. Em Lauro de Freitas, temos o caso de Moema Gramacho, que comanda o PT local. E tem Vitória da Conquista, que deve ter candidato e deve ganhar inclusive. A administração do time de Temer lá é desastrosa. Mas a nossa capital Salvador – que desde 1985 disputamos as eleições, exceto 2016, precisa ter candidato para ganhar, e precisa ser nosso. Entendo a importância do nosso líder, o governador Rui Costa, mas não podemos perder de vista a autonomia das instâncias. Considerando que Salvador completa 470 anos em 2019 e em 14 anos nós fizemos muito, o Brasil tem mais de 500 anos, e todos precisam considerar muito o que o PT fez por esse povo neste tempo de governo.
Pelo que entendi, o governo estadual não quer uma candidatura do PT. Rui Costa pode sair do partido para ser senador e isso é complicado de se tratar, até porque está ainda somente o boato sobre isso. E ainda vejo notas sendo plantadas na imprensa como: “As conversas com Rui Costa e Bellintani estão avançadas”; “Rui e Bellintani estão unidos por Salvador”. Ninguém está dizendo que não seja Bellintani – desde que ele venha para o PT. E que precisa ganhar logo as eleições no primeiro turno, mas isso é muito difícil. Impossível ganhar as eleições no primeiro turno. Na conjuntura de hoje, onde não tem coligação proporcional, ganhar as eleições no primeiro turno é improvável. Poderia até ganhar, se tivesse um leque de partidos, fizesse uma coligação proporcional, elegeria uma bancada boa como nós conseguimos eleger mais de 16 e 17 na coligação na última eleição.
Hoje é impossível disso acontece, temos os vereadores que querem se salvar. Então todos os partidos terão que ter candidatos, principalmente o PT. O PT vem nessa labuta desde a abertura democrática de 1985, quando teve o primeiro candidato – que foi Mário Kertész – para prefeito da cidade. Elegia os vereadores, mas não elegia o prefeito. Kertész foi o primeiro a ser eleito e, de lá para cá, o PT sempre teve candidatos, mas nunca ganhou e essa é a oportunidade do partido ganhar as eleições. Um, porque tem um governo federal desastroso, que fez 100 dias sem fazer nada. Dois, que a conjuntura já mostrou que o ex-presidente Lula é um preso político e o povo quer o PT de volta. O governo federal de Bolsonaro tem dois pilares: a reforma da previdência, que não vai passar, e o projeto anticrime, que eles querem tirar a questão do Caixa 2. Que também não vai passar por haver uma crise entre partidos da base política.
Esse é o momento do Partido dos Trabalhadores disputar bem e ganhar. E mais ainda, a militância do PT está com dificuldade e precisamos resolver isso para chegarmos bem e unidos. Os cargos do governo do estadual, por exemplo, ficaram com os partidos aliados, que estão priorizando os seus aliados, obviamente, e o PT está fora de quase tudo. Inclusive tem secretarias que é do PT que só tem gente de outros partidos atuando. Mas não adianta eu ou quem quer que seja fazer esse debate. Precisamos é fazer uma disputa elaborada, qualificada, e reforçar a militância e ter candidaturas fortes dentro do partido em diferentes cidades, mas principalmente aqui na capital.
*Luiz Carlos Suíca é historiador e vereador do PT de Salvador