A reforma da Previdência, as concessões de petróleo e as privatizações permitirão ao governo zerar o déficit orçamentário neste ano, disse hoje (23) o ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele, no entanto, ressaltou que o país precisa levar adiante reformas estruturais que reduzam o gasto público para que essa redução seja sustentável nos próximos anos.
Em entrevista à Bloomberg, emissora internacional de notícias, em Davos, na Suíça, onde participa do Fórum Econômico Mundial. Na conversa, Guedes classificou a democracia brasileira como “vibrante” e disse que o país precisa romper a armadilha do baixo crescimento.
Perguntado em quanto tempo conseguiria zerar o déficit nominal do setor público, que alcançou 7,10% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e dos serviços produzidos no país), Guedes respondeu sobre o déficit primário do Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central), que deve terminar 2018 em torno de 2% do PIB. O déficit primário representa o resultado negativo nas contas do governo excluindo os juros da dívida pública.
Meta ousada
Segundo Guedes, metade dos recursos para zerar o déficit orçamentário viria da reforma da Previdência. A outra metade viria das concessões de petróleo, principalmente da camada pré-sal, e de privatizações de estatais. Ele admitiu que a meta é ousada, mas que é assim que as grandes empresas trabalham.
“Mais da metade do déficit vamos eliminar com a reforma da Previdência. Temos muitas concessões de petróleo. A outra metade disso, vamos eliminar neste ano com concessões de petróleo e uma lista imensa de privatizações. Então, em termos de dinheiro, vamos zerar o déficit este ano. Vamos trabalhar como as grandes companhias privadas, com metas ousadas”, declarou Guedes.
Valores
O ministro adiantou valores. Segundo ele, a venda de subsidiárias de duas ou três grandes estatais renderia em torno de US$ 20 bilhões, equivalente a R$ 75,3 bilhões pela cotação de venda do dólar comercial hoje. A meta de déficit primário para este ano está em R$ 159 bilhões. Ele disse que a equipe econômica pode cortar cerca de US$ 10 bilhões (R$ 37,7 bilhões pelo câmbio de hoje) de subsídios, mas disse que o principal desafio será a reforma da Previdência.
“A coisa mais urgente são as reformas estruturais. Se conversarmos sobre cortar subsídios aqui e lá, vamos perder apoio político. Então temos de fazer a reforma mais importante, que é a da Previdência. Por que se envolver em pequenas batalhas se temos uma grande batalha adiante?”, declarou Guedes. Segundo ele, o governo não pretende congestionar o Congresso com três reformas simultâneas e pretende centrar munição para aprovar a reforma da Previdência a ser enviada ao Congresso em até 60 dias.
Democracia
O ministro da Economia classificou a eleição do presidente Jair Bolsonaro como uma característica vibrante da democracia brasileira. Para ele, o país passou por uma alternância de poder depois de 30 anos regido por um modelo social-democrático. “É como se tivéssemos 30 anos seguidos de governo democrata nos Estados Unidos. Qualquer republicano venceria as eleições seguintes. Ou 30 anos de governo trabalhista no Reino Unido. Qualquer conservador venceria as próximas eleições”, argumentou.
“O que estamos vendo é uma democracia muito vibrante funcionando. Nunca houve risco de os perdedores [das eleições brasileiras] transmitirem à opinião pública interna que o Brasil está em risco, que está fechado politicamente. Essa é uma percepção errada”, acrescentou.
Agenda
No segundo dia de compromissos em Davos, Guedes reuniu-se com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno; com o secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Ángel Gurría, e com o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo. Ele também encontrou-se com os presidentes da empresa de energia Siemens, do aplicativo de transportes Uber, da empresa de private equity (que investe em outras companhias) General Atlantic e dos bancos BBVA e UBS.
Guedes também participou de dois painéis no Fórum Econômico Mundial e acompanhou o presidente Jair Bolsonaro num almoço de trabalho com o tema O Futuro do Brasil.