Começa nesta segunda-feira (3) o estudo técnico para a inclusão da profissão de baiana de acarajé na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), documento que reconhece, nomeia, codifica e descreve as características das ocupações do mercado de trabalho brasileiro. O trâmite para a inclusão será celebrado com uma solenidade, às 9h, na sede da Superintendência Regional do Trabalho na Bahia (SRT-BA), localizada na Av. Tancredo Neves (atrás do Shopping Sumaré). O evento contará com a presença do prefeito ACM Neto, do secretário-executivo do Ministério do Trabalho, Antônio Correia, da secretária municipal de Políticas Públicas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ), Taissa Gama, e da presidente da Associação das Baianas de Acarajé, Mingau e Receptivo da Bahia (Abam), Rita Santos, entre outras autoridades. O estudo deve durar até o final do mês de julho, quando o ministro do Trabalho pretende assinar a inclusão na CBO.
A inclusão da profissão na CBO é uma conquista para as baianas de acarajé. Apenas em Salvador, cerca de 3.500 profissionais devem ser beneficiadas, conforme estimativa da Abam. Esta oficialização só está sendo possível graças ao empenho da SPMJ junto ao Ministério do Trabalho. Desde 2005, as baianas são reconhecidas como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Iphan, mas ainda sentiam dificuldade em ter a profissão reconhecida. Com a inclusão da profissão na CBO, as baianas de acarajé passam a assumir a identidade profissional ao realizar cadastros formais para tirar documentos como RG e passaporte, ou se cadastrar como microempreendedor individual. Além disso, a secretária Taissa Gama lembra que a inclusão facilita a criação de cursos de especialização para esta área.
A presidente da Abam, Rita Santos, comemora a iniciativa. “É uma reivindicação que já vinha fazendo desde 2009, depois que eu não pude me cadastrar como baiana de acarajé ao fazer o meu passaporte. Queriam que eu me cadastrasse como cozinheira, mas eu não sou, sou baiana de acarajé”, diz Rita Santos. Além do reconhecimento, outras ações estão sendo realizadas em prol das baianas de acarajé. Uma delas é levar debates às Prefeituras-Bairro para coibir o trabalho infantil nos tabuleiros.
História – A comercialização do acarajé teve início ainda no período da escravidão, a partir do século XVI, com as chamadas escravas de ganho que trabalhavam nas ruas para as suas senhoras (geralmente pequenas proprietárias empobrecidas), desempenhando diversas atividades, entre elas, a venda de quitutes nos seus tabuleiros. A relação com a religiosidade era muito forte e a massa era feita no terreiro, de onde a baiana saia com todas as obrigações a serem cumpridas a seu Orixá. Através de um canto tradicional, as baianas chamavam o povo para comprar e comer. Elas diziam a expressão “acará jê” (de akàrà, bola de fogo, e jê, vender) em canto, enquanto vendiam. A partir daí, surgiu o nome.
No final do século XIX, as mulheres tinham a permissão de seus senhores para sair no final do dia, com o tabuleiro na cabeça, protegida por um torço de pano da costa, para comercializar os bolinhos, feitos de massa de feijão fradinho descascado, cebola, gengibre e camarão; fritos no azeite de dendê. Depois da abolição, em 13 de maio de 1888, a tradição continuou. Até meados da década de 70 do século XX, as baianas mantiveram o costume de vender o produto somente à tarde e à noite. Depois que o acarajé conquistou visitantes, passou a ser um dos cartões de visita da culinária baiana e a ser vendido durante o dia.
O acarajé e o abará são comercializados, atualmente, em Salvador, por um preço médio de R$ 5, mas é possível encontra-los até mesmo por R$ 1. No candomblé, o alimento é preparado para cultuar os orixás Iansã e Xangô. O ofício das baianas de acarajé está inscrito no Livro dos Saberes do Iphan, desde 2005, como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.