O presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Jorge Castanheira, disse que as agremiações do Grupo Especial não têm alternativa para recompor, em seus orçamentos, os R$ 13 milhões equivalentes aos recursos que a prefeitura do Rio prometeu cortar nos repasses para o carnaval de 2018. “Não tem plano B. Nós estamos em junho e fomos avisados em junho que a prefeitura estava com dificuldades financeiras e ia reduzir os contratos em 25% e o carnaval em 50%”, apontou em entrevista à Agência Brasil.
De acordo com o presidente, as contas das escolas não fecharão sem este dinheiro e a apresentação do próximo ano já está sofrendo impacto. Castanheira informou que, durante cinco anos, a prefeitura repassou R$ 1 milhão, por ano, a cada agremiação, valor que foi dobrado em 2016 e 2017. Com isso, elas conseguiram equilibrar as contas, uma vez que, por causa da crise financeira, já tinham perdido o apoio do governo do estado e o patrocínio da Petrobras.
“Imagina, sem Petrobras, sem o governo do estado e diminuindo em 50% [o repasse da prefeitura], como as escolas conseguem fazer carnaval? Elas já vinham em crise e enxugando tudo ao máximo, e ainda por cima cortar em 50% a verba, é impossível fazer”, revelou.
Castanheira espera discutir a questão com o prefeito Marcelo Crivella e com todos os presidentes das escolas do Grupo Especial. Aguarda que o encontro seja agendado para ainda esta semana, uma vez que a reunião prevista para a segunda-feira passada (12), às 15h foi cancelada. “Como ele viajou e houve problema na agenda, ele desmarcou. Estou esperando essa remarcação da agenda entre os presidentes das escolas e da Liga com o prefeito”, contou. O pedido de reunião foi feito desde a semana passada, quando o prefeito deu a notícia ao próprio Castanheira.
Recursos privados
Uma outra reunião, agora entre Castanheira e o presidente da Riotur, Marcelo Alves, estava prevista para hoje (19), mas foi cancelada a pedido do presidente da Liesa. Alves queria discutir a estratégia para conseguir os recursos por outros meios, que não do orçamento da prefeitura. A criação de um caderno de encargos, a exemplo do que é feito com os blocos de rua, com a participação de empresas privadas que, entre outros direitos, teriam a possibilidade de exibir as marcas no sambódromo, é uma das medidas em análise pela administração municipal.
“Temos que ouvir as empresas. As empresas querem estar no carnaval, desde que tenha propriedade. Não estou confirmando que as empresas estarão, mas tem que se trabalhar. Tem que ouvir, tem que apresentar um projeto mais estruturado em termos de propriedade comercial”, apontou Alves.
Para o presidente da Liesa, entretanto, diante da crise financeira do país, o interesse das empresas em investir no carnaval tem caído e essa é uma dificuldade para que o caderno de encargos seja uma solução para o problema. “Essa solução não atende porque não gera segurança alguma, e não dá garantias às escolas de que elas podem fazer um carnaval e gastar por conta de uma coisa que ainda não têm. Do carnaval passado, elas não receberam R$ 100 mil da Riotur ainda”.
O presidente da Liesa disse que a indefinição sobre o assunto está provocando pressão nas escolas. Um dos fatores de incerteza é sobre o valor dos ingressos para o Sambódromo. “Há cinco anos, a gente não reajusta nenhum valor de ingresso na Marquês de Sapucaí. Vai para o sexto ano? Vamos continuar sem reajuste. Dia 30 agora é o prazo limite legal por lei municipal para definir os ingressos, por isso, o trade turístico está querendo falar conosco. Para venderem ingresso para fora do país, eles têm que ter antecedência. Como a gente faz agora, se não houver uma solução rápida da prefeitura?”, apontou.
Chantagem
Castanheira contestou as críticas de que as escolas do Grupo Especial estejam fazendo chantagem ao ameaçarem não desfilar para forçar a prefeitura do Rio a voltar atrás na decisão do corte. “Eu estou na Liga há dez anos como presidente, com mais seis anos como vice-presidente. Eu pergunto: quando foi que, neste período, eu fiz chantagem com nenhum órgão? Nunca. A Liga sempre teve total transparência e respeito com as coisas tanto da Liga quanto do setor público”.
O presidente da Riotur, Marcelo Alves, se mostrou confiante em um acordo. “Acho que é uma polêmica desnecessária. Vai ter carnaval. Não tenho a menor dúvida disso e garanto que ainda maior e melhor”, disse.
Alves insistiu que pretende adotar um novo formato de marketing para o carnaval das escolas de samba, que permita triplicar a renda obtida com a exploração publicitária dos espaços do sambódromo. “Tem potencial para muito mais. Acho que foi um momento de explosão [das escolas em anunciar a possibilidade de não haver desfile]. A democracia causa isso. Todo mundo tem o seu direito de opinião, mas agora, com prudência e serenidade, a gente vai chegar a um caminho. Não tenho dúvida. Estou muito tranquilo quanto a isso”, disse, confiante.
O presidente da Liesa também acredita em um acordo. “Acho que a gente tem muita chance com o prefeito, com as escolas de samba, de encontrar uma fórmula que atenda aos dois lados e não inviabilize nem a questão orçamentária da Riotur e da prefeitura e nem das escolas de samba, que já tinham os seus projetos planilhados em função do que estava ocorrendo nos anos anteriores”, afirmou Castanheira.