“Indústria de multas”. Esta é uma expressão comumente utilizada por motoristas que trafegam pelas ruas de Salvador. Em tom pejorativo, ela quase que define um sentimento de parte dos condutores. A responsável por essa suposta máquina de arrecadação oficial seria a Superintendência de Trânsito e Transporte do Salvador (Transalvador), órgão que tem a função de punir aqueles que dirigem à margem do Código Nacional de Trânsito na capital baiana.
Mas será que essa crítica se justifica quando se analisa os dados? De acordo com números do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) Salvador tinha, em 2012, uma frota aproximada de 745 mil veículos. Neste, que foi o último ano da administração João Henrique (à época no PMDB), a arrecadação municipal com infrações foi de pouco mais de R$ 33 milhões.
Três anos mais tarde, em dezembro de 2015, já sob o comando de ACM Neto (DEM), a cidade apresentava 100 mil veículos a mais. Nele, os motoristas pagaram mais de R$ 51 milhões em infrações. Em 2014, o valor foi ainda maior, de quase R$ 54 milhões. Em quatro anos da gestão de ACM Neto, ainda não contabilizando os dados de 2016 (em aberto), já foram arrecadados mais de R$ 162 milhões em multas de trânsito.
A lógica aponta que mais carros circulando tendem a representar um número maior de infratores em potencial. Mas até que ponto? E qual o papel dos motoristas neste processo? Na opinião do superintendente da Transalvador, Fabrízio Muller, total. “Todo mundo que analisa o trânsito de Salvador, sabe qual é a situação. Somos os campeões nacionais de infração. Desrespeitar a lei aqui não é exceção, é regra”, dispara.
Para Muller, a ideia de que o órgão trabalha com intuito primário de arrecadar, não encontra parâmetro na realidade. “O que existe não é uma indústria de multas, mas uma indústria de infratores. O que fazemos hoje em dia é tolerar menos”, avalia.
O “hoje em dia” utilizado na resposta é uma referência direta à administração anterior. “Foi um período que deseducou e acostumou mal a população”. Para justificar o aumento de quase R$ 20 milhões, quando comparados os dados de 2012 e 2015, ele aponta a “situação precária” de infraestrutura que teria recebido quando assumiu o órgão.
“Chegamos aqui e encontramos radares sem funcionar, equipe desmotivada, sem receber gratificações. Além disso, investimos em tecnologia, equipamentos. Hoje, por exemplo, as multas podem ser feitas de forma eletrônica. Temos mais câmeras de vigilância, mais viaturas nas ruas”, aponta.
E a política a ser adotada nos próximos quatro anos tende a ser a mesma. Segundo Muller, apesar das reclamações, a maioria da população reconhece as melhoras no trânsito. “Tenho certeza de que ninguém quer ver bagunça e desordem nas ruas da cidade. Esse é um processo também educacional, que apresentará resultados com o tempo”.
Valores arrecadados pela Transalvador com infrações de trânsito
Governo João Henrique
2011
R$ 27.676.299,00
2012
R$ 33.582.299,00
Governo ACM Neto
2013
R$ 32.786.117,81
2014
R$ 53.809.487,86
2015
R$ 51.443.142,50
2016
R$ 24.237.158,89 (dados referentes ao primeiro semestre)
Diorgenes Xavier – AratuOnline