Desde 2013, Salvador avançou nas ações de proteção das mulheres vítimas de violência doméstica. Nesse período, a Prefeitura investiu R$ 11.872 milhões em infraestrutura e ações de prevenção, atenção e enfrentamento ao problema. A Superintendência de Política para as Mulheres (SPM), órgão municipal, foi fortalecido com esses investimentos, e tem promovido atividades que vão desde o acolhimento e proteção a vítimas até a realização de atividades que buscam restabelecer a autoestima dessas mulheres, como cursos, palestras e oficinas de educação, bem como aulas de defesa pessoal, biodança e atendimento jurídico e psicológico.
Como lembra a titular da SPM, Monica Kalile, esse investimento tornou possível a restruturação do Centro de Referência de Atendimento à Mulher Loreta Valadares e a criação da Casa de Acolhimento Provisório de Curta Duração Irmã Dulce, a primeira do município destinada às mulheres vitimas de violência familiar e tráfico de pessoas. “Com isso, a Prefeitura conseguiu dobrar sua capacidade de atendimento às mulheres em risco de violência. A decisão da atual gestão de vincular a SPM ao Gabinete do Prefeito viabilizou a celeridade das soluções dos inúmeros desafios encontrados”, informa.
O Loreta Valadares esta localizado na Praça Almirante Coelho Neto, nº 1, Barris. A casa mede 395 metros quadrados, possui salas especificas para atendimentos com assistentes sociais, psicólogos, advogados, pedagogos e brinquedoteca. Há ainda sala diferenciada para mulheres grávidas, idosas ou cadeirantes, dois espaços para capacitação profissional, de dança e de empreendedorismo.
Já a casa de acolhimento possui um espaço com 595 metros quadrados, quintal, horta, parque, brinquedoteca, sala de leitura, de jogos, cinco quartos com beliche, cama de bebê e uma equipe técnica treinada, qualificada e pronta o atendimento. Tem capacidade de abrigar até 30 mulheres no período de até 15 dias, podendo estar acompanhada ou não de seus filhos de 0 a 12 anos. E o endereço será restrito apenas à rede de atenção à mulher, Delegacia Especial de Atendimento à Mulher, Ministério Público da Bahia, Defensoria Pública do Estado e Tribunal de Justiça da Bahia. Vale lembrar que outros dois centros de referência vão ser implantados nas regiões de Cajazeiras e Subúrbio Ferroviário.
Relatos de violência – Somente em 2016, a Delegacia da Mulher do Subúrbio Ferroviário registrou 1.222 ocorrências contra as mulheres. A unidade de Brotas registrou 3.709 de crimes. Pouco antes de completar 30 anos, E.S.B. teve uma surpresa desagradável com o ex-companheiro que, num ataque de ciúmes, queimou-a com ácido. O ato de crueldade resultou em graves queimaduras por todo o corpo, a perda de uma das orelhas e de grande parte do cabelo, que até hoje possui trechos irrecuperáveis.
“Eu passei quatro meses internada e guardo esse trauma até hoje. Um alento para mim é o trabalho psicológico realizado no Loreta Valadares. Lá, eles também me encaminharam para a Delegacia da Mulher e me ofereceram todo apoio jurídico. Atualmente, um processo contra meu agressor corre na Justiça. Sou muito grata pelo apoio e acolhimento que recebi nesse momento de dor. Hoje consigo interagir melhor com as pessoas e já consigo levar uma vida normal, graças a esse trabalho realizado no centro”, conta.
No caso de G.M.S., de 25 anos, a situação ainda envolveu a filha, hoje com um ano e meio, e recém-nascida à época em que seu companheiro a agrediu com socos e pontapés. Orgulhosa por ser uma mulher independente, o medo quase a fez desistir de buscar uma punição contra seu agressor, até que, encaminhada ao Loreta Valadares por familiares, decidiu agir. “Não queria denunciá-lo, primeiro porque achava que isso faria mal a minha filha no futuro. Mas, na verdade, não fazia por vergonha de ser julgada pela sociedade. Enfim, após longa conversa com as assistentes sociais do centro percebi que a denúncia era o melhor a fazer. Hoje já não me acho culpada pelo que me ocorreu e sei que fui vítima de alguém que não aceitava, de modo algum, ser contrariado”.
Sem histórico de violência física, mas presa a uma relação desgastada pelo tempo e repleta de insultos e maus tratos, a aposentada A.L., de 61 anos, buscou o Loreta Valadares quando passava por grave crise depressiva e frequenta o centro há cerca de dois anos. “Fui encaminhada ao centro por uma assistente social que me amparou em uma fase muito rim de minha vida. Hoje, graças a Deus, estou divorciada e conto com a proteção e o cuidado da SPM, que me garante apoio psicológico, palestras, cursos e oficinas de diversos temas que me auxiliam a levar a vida adiante. Nesse acolhimento fui tratada como gente e conheci pessoas interessantes. A atenção recebida foi tanta que hoje tenho amigas, vizinhas e até mesmo familiares frequentando o centro comigo”.
Como denunciar – Quem presenciar ou vivenciar algum tipo de violência pode denunciar por meio do disque-denúncia (180) ou à polícia (190). Dúvidas, orientações, informações ou agendamento no Loreta Valadares podem ser realizados por meio dos telefones 3235-4268/ 3611-6412.