Um drone foi apreendido pelo 4º pelotão da Companhia Independente de Policiamento de Guarda (CIPG) da Polícia Militar, na manhã deste domingo (5), enquanto sobrevoava o espaço aéreo do presídio de Eunápolis, no Extremo Sul da Bahia. De acordo com a PM, o equipamento, que é dirigido por controle remoto, foi abatido com um tiro.
Ele transportava 19 aparelhos celulares, quatro cartões de memória, dois chips de uma operadora de celular nacional, oito pedações de serra e cinco carregadores e tinha como destino a unidade prisional.
Ainda segundo a PM, o drone foi abatido por volta das 8h. Através da assessoria de comunicação, a Secretaria de Administração Penitenciária da Bahia (Seap) disse que agentes de disciplina do presídio avistaram o equipamento voador e acionaram os policiais militares que fazem a segurança do presídio.
Drone com ‘bagageiro’ onde eram transportados 19 celulares e serra |
A Seap, no entanto, negou que o objeto tenha sido abatido com um tiro. “O operador do drone tentou soltar a carga e acabou se assustando com o estampido do tiro, perdendo totalmente o controle do referido objeto”, diz a Seap, em nota.
O material foi encaminhado para a Delegacia de Eunápolis. A pessoa que controlava o drone conseguiu fugir em um veículo branco e, até a manhã desta segunda-feira (6), ninguém havia sido preso.
Hexacóptero
De acordo com o piloto de drones e sócio da empresa Bahia Drones, Luiz Marcelo Horta, o equipamento apreendido é um hexacóptero – possui seis braços, com uma hélice em cada ponta – que tem entre 60 e 70 cm de diâmetro. As hélices são confeccionadas em fibra de carbono e o aparelho tem, ainda, uma placa controladora fabricada pela empresa DJI.
Luiz Marcelo explica que o hexacóptero apreendido tem capacidade para transportar, em média, 3kg além do próprio peso, podendo levar uma ‘bagagem’ de até 5kg, se forçado. O custo fica entre R$ 5 mil e R$ 10 mil, dependendo da qualidade dos componentes.
“É um hexacóptero montado por alguém com o mínimo de conhecimento técnico. Não necessariamente montado pelos bandidos, pois você consegue comprar equipamentos como este, prontos para voar, montados por terceiros”, diz Luiz Marcelo. Ainda segundo ele, um amador não consegue pilotar a máquina, que demanda “algum conhecimento conhecimento”.
Foto: Divulgação PM |
Outras apreensões
Não é a primeira vez que um drone é apreendido enquanto levava aparelhos para dentro do presídio de Eunápolis. De acordo com a PM, este foi o segundo episódio somente este ano.
Em setembro do ano passado, a CIPG também apreendeu um drone, que levava 340 chips de celular, quatro cartões de memória, nove celulares, dois pendrives e quatro carregadores de celular para o mesmo presídio.
O coordenador-geral do Sindicato dos Servidores Penitenciários do Estado da Bahia (Sinspeb), Reivon Pimentel, afirma que este é o terceiro episódio parecido ocorrido somente no presídio de Eunápolis que, segundo ele, funciona em cogestão – parceria entre o governo do estado e a iniciativa privada.
Para ele, é mais fácil levar aparelhos para o presídio utilizando drones. “A tecnologia hoje está acessível e com equipamento desses eles podem jogar dezenas de aparelhos, drogas lá dentro. Se eles tiveram um abatido, podem ter passado dez. Hoje, tem líderes do tráfico em todas as unidades do estado. E pode ter certeza que quem comprou e quem ia receber um equipamento desses é liderança”, aponta.
Reivon acrescenta que o estado acaba perdendo a batalha. “A criminalidade está muito inventiva, o crime está organizado e o estado está desorganizado. Enquanto o crime está se aprimorando, comprando eletroeletrônicos, e o estado está sucateado”, diz.
De acordo com a Seap, a fiscalização nos presídios tem se intensificado, o que pode explicar o investimento de criminosos em drones para levar o material para dentro do presídio. “A Seap tem dotado suas unidades de equipamentos de fiscalização, como banquetas, pórticos, detectores de metais portáteis, esteiras de RX e bastões que tornam a entrada de materiais ilícitos quase impossível”, informou a Seap.
Legislação
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ainda não possui um regulamento final para a operações das aeronaves remotamente pilotadas (RPA), que está em fase de discussão. Mas enquanto o documento não é finalizado, vale as regras que constam na Instrução do Comando da Aeronáutica (ICA) 100-40, disponível no site do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea).
Hoje, considera-se que “qualquer objeto que se desprenda do chão e seja capaz de se sustentar na atmosfera – com propósito diferente de lazer, hobby ou competição – estará sujeito às regras de acesso ao espaço aéreo brasileiro e precisará solicitar autorização de voo ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea)”.
Para fazer a solicitação, é preciso enviar o pedido para o órgão responsável – no caso da Bahia, o Cindacta III, sediado em Recife. Luiz Marcelo Horta, sócio da empresa Bahia Drones, critica a facilidade para se operar drones hoje no Brasil, uma vez que a legislação está em curso, mas não foi finalizada.
“No mundo inteiro os drones já estão regulamentados, com operadores cadastrados. No Brasil, hoje em dia, qualquer um compra um drone e faz o que quer”, critica Luiz Marcelo. Segundo ele, operadores baianos estão se organizando para criar uma associação que auxilie na regulamentação do serviço.
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