Era uma vez, um time que tinha um torcida que vibrava e os adversários sofriam de medo. Era uma vez, um estádio que abrigava esta torcida e ela realmente estava em casa. Era uma vez uma torcida que vendia o botijão de gás e até ficava sem comer para ver o seu time vencer com a força de seu grito, pois a letra de seu clube diz que “ninguém nos vence em vibração”.
Era uma vez, em tardes ensolaradas ou em noites chuvosas que qualquer hit musical era transformado em canto que aterrorizavam visitantes acostumados a ouvir tais melodias com suas letras originais nas vozes dos artistas. Mas, no palco do futebol quem fazia a festa eram famosos “anônimos” vestidos com camisas de três cores.
Era uma vez, uma praça esportiva acolhedora, materna e familiar. Lá havia calor humano e fraternidade. Um canto, uma só voz que começava no lado A. Esse turbilhão vocal fazia literalmente tremer estruturas ou será que era a brisa abençoada pelos orixás que se transformava em trovão? Quem ficava quieto era adversário ou tomava o “fique esperto”.
A modernidade imperiosa fez com que as pedras fossem ao chão depois da tragédia. O choro que molha meu rosto agora quando escrevo é o mesmo que encharcou minhas tristezas ao ver os corpos de irmãos dilacerados. As lágrimas de outras tantas emoções ainda caem com tantas lembranças.
Uma torcida reclama do tratamento que a nova praça esportiva tem dispensado aos milhares de apaixonados pelas três cores. Valores caríssimos até mesmo para um picolé assombram quem já pagou absurdos por um ingresso. O pior de tudo isso é aturar a arrogância administrativa do consórcio que gerencia o que hoje conhecemos como Arena Fonte Nova.
Onde nossas emoções ainda teimam em aparecer, outrora fora conhecida como Fonte Nova. Em nossos corações, este nome ainda manda, pois nenhuma menta fria e calculista do mundo empresarial vai destruir este sentimento visceral.
A diretoria do Esporte Clube Bahia não pode ficar apenas ameaçando romper a relação com o tal consórcio como se fosse uma esposa maltratada que sonha na melhoria do comportamento de seu marido agressor. Se o torcedor tricolor está sendo ultrajado que o clube tome providências para restabelecer direitos para quem ainda ajuda a manter o futebol e a força do bicampeão brasileiro nas arquibancadas, pois ninguém nos vence em vibração.
Jeremias Silva é jornalista, editor do site Política na Rede e torcedor do Bahia.