O Subúrbio 360, em Coutos, foi palco do Seminário Sementes da Ancestralidade, promovido pela Secretaria Municipal de Educação (Smed) na última sexta-feira (18). O evento, que coroou a formação antirracista realizada pelo Centro de Formação para Educação das Relações Étnico-Raciais Ananse Ntontan (Cenfran), foi aberto com a mesa formada por Ivete Sacramento, titular da Secretaria Municipal de Reparação (Semur); Frederico Wegelin, diretor de infraestrutura da rede escolar da Smed; Eliane Boa Morte, coordenadora do Cenfran e do Núcleo de Políticas Educacionais das Relações Étnico-Raciais (Nuper), da Smed; e Adenildes Teles, diretora pedagógica da Smed.
Na ocasião, também foram certificados os profissionais e estudantes da rede municipal de ensino que fizeram a formação do Cenfran. Em seguida, houve a apresentação da peça “Áfricas”, encenada pelo Grupo de Teatro da Polícia Militar da Bahia (PM-BA), além das performances artísticas dos estudantes da Escola Municipal 15 de Outubro (Fazenda Grande do Retiro) e uma homenagem à poetisa e professora da rede municipal, Valda França.
“O seminário é uma celebração ao Novembro Negro e é o ponto alto do processo formativo do Cenfran, que começou em junho, contemplou 256 estudantes do 6º ao 9º ano de 40 escolas da Gerência Regional (GR) de São Caetano, bem como 500 profissionais de educação da mesma GR. O objetivo foi construir um projeto-piloto para formular metodologias de ensino e analisar conteúdos e materiais didáticos para proporcionar a formação antirracista a toda a rede municipal. Agora, vamos produzir um relatório com as informações obtidas dessa experiência e encaminhar uma proposição neste sentido”, explicou Eliane Boa Morte.
Formação – As formações do Cenfran tiveram duração de 8, 16 e 40 horas (neste caso, para os coordenadores pedagógicos, responsáveis por orientar os professores). Dentre os tópicos abordados estiveram o negro na sociedade brasileira, os desafios da mulher negra e história da África e do apartheid, a partir de três obras selecionadas: Mandela; Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus; e O Perigo de uma História Única, de Chimamanda Ngozie.
Formadora do centro e coordenadora pedagógica da Smed, Eliecilda Souza detalhou que os encontros formativos tiveram como foco debater o quesito raça/cor, a construção da identidade racial no Brasil e a legislação que embasou a edição da Lei 10.639/2003, que tornou obrigatória a inclusão da história e cultura afro-brasileira na grade curricular do ensino fundamental e médio.
“Além dos estudantes, formamos assistentes administrativos, assistentes de alfabetização, professores, chefes de secretaria, gestores de escola e gerentes. Nossa projeção é que o Cenfran possa se tornar um centro de formação educativa antirracista permanente para abarcar a demanda do Município. A maioria dos nossos estudantes é negra, então, em Salvador, essa discussão não pode deixar de ser central nos ambientes escolares”, pontuou.
Mateus Queiroz, de 15 anos, que cursa o 9º ano na Escola 15 de Outubro, afirmou que a formação do Cenfran mudou seu jeito de ver o mundo. “Foram encontros semanais, com rodas de conversa, filmes e leituras sobre racismo, machismo, homofobia, questões sociais que realmente devem ser analisadas. Um projeto muito legal. Tinha noção desses preconceitos pelas mídias, mas não um entendimento tão profundo dos abalos sociais que eles provocam, como depois da formação. Aprendi que palavras usar e não usar e, sobretudo, hoje me afirmo negro com mais convicção, mesmo tendo um tom de pele relativamente claro”, concluiu.