Os motoristas e cobradores da frota urbana de Salvador decidiram entrar em greve a partir dessa quarta-feira (23). Em assembleia geral realizada no ginásio do Sindicato dos Bancários, na Ladeira dos Aflitos, Centro da capital, a categoria, por aclamação, apoiou a decisão de cruzar os braços, após não chegar a um acordo com o sindicato patronal.
No início da assembleia, o diretor do Sindicato dos Rodoviários da Bahia, Hélio Ferreira, lembrou que foram 60 dias de negociações com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Salvador (Setps), e declarou que foram cumpridos todos os ritos para que a greve não fosse considerada ilegal pela Justiça.
Antes de colocar a greve em votação, a categoria gritou em apoio à decisão. Assista.
Para justificar a paralisação por tempo indeterminado, ele afirmou que a categoria não deve permitir a retirada de direitos. “O patronato não está nos levando a sério. Isso é falta de respeito com os trabalhadores”, reforçou Hélio.
Catacra livre
A medida, no entanto, pode ser um pouco diferente, ou seja, sem o uso das catracas, com os passageiros acessando os coletivos pela porta de saída, para evitar pedidos de ressarcimento por parte dos patrões.
A decisão de não cobrar pelas passagens divide opiniões entre os próprios rodoviários. “Catraca livre não concordamos porque parece ensaio pra demitir os cobradores. Tem que parar geral”, defendeu um cobrador, sem se identificar.
Uma usuária do transporte coletivo também criticou: “Tô com medo de entrar bandido no ônibus. Entra bandido de qualquer jeito. Tô preocupada com meus filhos. Vai ter é confusão”, disse uma dona de casa de 55 anos, também sem dizer o nome, pouco otimista com a medida.
Um motorista de ônibus pensa diferente: “Sou a favor porque a gente chama a população pra nos apoiar. Faço questão de rodar com catraca livre”, avaliou ele, que faz parte da maioria que defende a conduta.
“Fomos até o fundo do poço pra tentar negociar. Infelizmente não teve acordo. Não queremos deixar a população na mão”, declarou Adelnilson dos Santos, 48, rodoviário há 25 anos e também entusiasta da medida sem precedentes em Salvador. Ele defende que a segurança dos rodoviários e passageiros no período de greve precisa ser reforçada.
Reivindições
Os rodoviários pedem um aumento do salário de 6%, 10% do tíquete-alimentação e a continuação do pagamento de horas extras. Embora os representantes da Superintendência Regional do Trabalho (SRT), que mediaram a negociação, tivessem sugerido o reajuste de 5%, os empresários continuaram alegando que não possuem condições de firmar o acordo.
Pouco antes das 16h, a categoria pôs a decisão de paralisar a atividade em votação, que recebeu o apoio da ampla maioria de motoristas e cobradores presentes.
Justiça determinou frota mínima
Pela manhã, houve uma última tentativa de rodoviários e donos de empresas acabarem com a queda de braço, por conta do reajuste da categoria, mas sem sucesso. Diante disso, o Tribunal Regional do Trabalho da Bahia (TRT5) já determinou que, sendo confirmada a greve, o percentual mínimo de ônibus deverá ser mantido.
A decisão foi divulgada no final da manhã, logo após a reunião entre os representantes dos dois sindicatos na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE), no Caminho das Árvores.
Na decisão (ver íntegra do documento no final da reportagem), o desembargador Renato Mário Simões determina que os rodoviários mantenham 50% dos trabalhadores em atividade das 5h às 8h e das 17h às 20h (horários de pico), e 30% nos demais horários. Caso o Sindicato dos Rodoviários descumpra a lei, será multado em R$ 10 mil para cada dia de paralisação.
Motoristas e cobradores também estão proibidos de impedir, dificultar ou atrasar o cumprimento dos horários das linhas. O desembargador afirma também que caberá ao sindicato patronal fazer a prova do eventual descumprimento da ordem judicial, e comunicar o fato ao juízo.
CORREIO