Um selo com até cinco estrelas estampadas em embalagens de alimentos industrializados tornou-se um aliado do consumidor. Na Austrália, a iniciativa ajuda famílias a escolher melhor o que comer entre os alimentos ultraprocessados – aqueles industrializados prontos ou quase prontos, como pizzas, lasanhas, biscoitos recheados e refrigerantes.
Para que não estraguem e tenham boa aparência, esses produtos passam por procedimentos que retiram nutrientes naturais e alteram sua composição. Por causa da adição extra de sal/sódio, açúcar ou gordura, os alimentos ultraprocessados são prejudiciais à saúde e estão relacionados a doenças como a obesidade e a hipertensão. Na Austrália, mais da metade dos adultos (63%) estão acima do peso ou é obesa. No Brasil, 52% da população tem sobrepeso.
Em Curitiba para participar da 22ª Conferência de Promoção da Saúde, Heather Yeatman – uma das idealizadoras da iniciativa na Austrália e professora da Universidade de Wollongong – explica que o selo foi uma demanda do governo do país, pressionado pela sociedade. Traduzindo um modelo estatístico que avalia os ingredientes da cada produto, o sistema classifica os alimentos com uma escala que vai de meia a cinco estrelas, colocadas na frente do produto.
Segundo a especialista, as informações nutricionais no verso dos produtos, já previstas naquela país, assim como no Brasil, não são compreensíveis ao ponto de orientar o consumidor sobre o que comer ou o que deixar na prateleira do supermercado. “Essas informações vêm em letras pequenas, difíceis de ler, no verso, e são difíceis de interpretar”. Já as estrelas da classificação traduzem essas informações nutricionais de forma clara, por assimilação.
Concorrência e saúde
Com adesão voluntária da indústria de ultraprocessados australiana, os cereais matinais foram os primeiros. As estrelas acabaram provocando concorrência no setor, conta a australiana. “As empresas começaram a alterar a composição de seus produtos para torná-los melhores.”
Aliada à promoção da alimentação saudável e da regulação da publicidade desse tipo de produto, a implantação do selo nas embalagens é uma importante estratégia para ajudar a enfrentar problemas de saúde como obesidade, destaca a professora de Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Inês Rugani. Ela defende mudança na legislação no Brasil para que informações desse tipo sejam implementadas.
“Eles chegaram a um ponto que conseguiram identificar que produtos abaixo de 2,5 estrelas não eram recomendados para a saúde e orientaram as campanhas para que as pessoas só consumissem aqueles acima de três estrelas, no mínimo”, disse Inês. Ela também acredita que a publicidade influencia o consumo de ultraprocessados e deve ser restringida.
No Brasil, pesquisa recente mostra que mais de dois em cada grupo de dez adolescentes estão acima do peso. De acordo com o estudo Erica, divulgado recentemente pelo Ministério da Saúde, um em cada grupo de cinco adolescentes hipertensos, entre 12 e 17 anos, cerca de 200 mil, poderia não ter a doença caso não fosse obesos.
Isabela Vieira – Repórter da Agência Brasil