Diante do aumento do número de casos de arboviroses – dengue, zika e chikungunya – e do avanço da pandemia do coronavírus (Covid-19) no Brasil e no mundo, Salvador montou uma estratégia de prevenção e enfrentamento a estas enfermidades, envolvendo tanto o poder público quanto a população. As ações foram apresentadas pelo prefeito ACM Neto e pelo secretário municipal da Saúde (SMS), Leo Prates, em coletiva realizada na sexta-feira (13), no Palácio Thomé de Souza, que reuniu também outros gestores municipais e autoridades.
No caso das arboviroses, dentre as ações estão o aumento dos mutirões de limpeza nos bairros, incluindo até mesmo a entrada em imóveis fechados através de autorização judicial, a intensificação da limpeza de canais e a utilização de equipamentos e insumos para combate ao mosquito. Em referência ao coronavírus, apesar de não ter sido confirmado qualquer caso na cidade, a administração municipal está se preparando para a adoção de protocolos para prevenção e já há orientação aos produtores para que seja evitada a realização de eventos com grande aglomeração de pessoas. Por exemplo, o Festival da Cidade, que desde 2014 é realizado em março pela Prefeitura com atrações culturais em celebração pelo aniversário de Salvador, está suspenso.
Combate ao Aedes – De acordo com o prefeito, o aumento do número de casos derivados da presença do Aedes aegypti acendeu a luz amarela na Prefeitura. Sendo assim, as medidas que vêm sendo adotadas ao longo de todo o ano estão sendo intensificadas, especialmente o trabalho conjunto da SMS com a Limpurb para promover o trabalho de limpeza nos bairros, com maior atenção onde há foco.
“Agora, há um problema muito sério: 90% dos focos estão em imóveis particulares, alguns deles abandonados ou fechados. Por isso, a gente faz um apelo a cada morador que tenha atenção para evitar acúmulo de água, que é um convite à presença do mosquito e as consequências são muito graves para a saúde pública. Serão intensificadas, inclusive, algumas medidas mais duras, a exemplo da entrada dos imóveis fechados para fazer a limpeza e multar os proprietários”, alertou ACM Neto.
Outras medidas são o aumento do volume de recursos municipais para o combate ao Aedes, incluindo a contratação de equipes extras para realização dos mutirões também aos finais de semana; compra de equipamentos e insumos específicos para o combate ao mosquito; limpeza de 13 canais nas localidades com maior incidência de casos, com aplicação de inseticidas; e articulação com as Prefeituras-Bairro para implementação de ações educativas e formação de multiplicadores.
Serão realizados, ainda, a implementação de testes rápidos para arboviroses nas unidades de pronto atendimento; capacitação dos profissionais de saúde para atendimento dos casos suspeitos, coleta e encaminhamento de mostras de laboratório; e intermediação do Samu com a rede municipal de saúde para suporte de pacientes com sintomas de dengue, zika e chikungunya.
Números – O secretário Leo Prates informou que, somente neste ano de 2020, a capital baiana registrou Índice de Infestação Predial de 2,3% para as arboviroses, contra 1,9% em dezembro de 2019. Às vésperas do início do período chuvoso, propício para o aumento da proliferação do Aedes aegypti, houve um crescimento de quase 346% do número de casos de dengue, de 640% para a chikungunya e 436% para o zika vírus na cidade.
O Distrito Sanitário Subúrbio Ferroviário lidera a quantidade de ocorrências, com 5,2% dos imóveis com foco do mosquito, tendo o caso emblemático mais recente o ocorrido na comunidade de Muribeca, em São Tomé de Paripe, que registrou até mesmo duas mortes por arboviroses. Outras localidades com alto índice de infestação do mosquito são as regiões do Cabula/Beiru, Itapuã, São Caetano/Valéria e Barra/Rio Vermelho. Além disso, há preocupação com o retorno do tipo 2 do vírus da dengue, que não circulava no Brasil há 17 anos.
Covid-19 – Sobre o Covid-19, o gestor municipal destacou que a capital baiana começou a se preparar desde as primeiras notícias de casos fora da China, onde surgiu este tipo de vírus. Hoje, Salvador possui um protocolo desenhado para enfrentar até mesmo situações mais críticas, se surgirem.
“Não há motivo para pânico, mas de atenção do poder público e do cidadão. Com esse momento de incerteza no Brasil e no mundo, a Prefeitura decidiu suspender o Festival na Cidade. O evento pode acontecer em um momento futuro, quando as preocupações diminuírem e houver mais clareza do que vai acontecer. A recomendação que temos dado a quem trabalha nos setores de eventos é que evitem realizar grandes atividades neste momento. As grandes aglomerações contribuem na disseminação do vírus e multiplicação da doença e devemos trabalhar para mitigar ao máximo. As decisões municipais serão tomadas de acordo com a evolução do quadro do coronavírus”, informou ACM Neto.
De acordo com o titular da SMS, a Prefeitura já possui 30 leitos de UTI para isolamento de pacientes que venham a ter o Covid-19 confirmado. No entanto, as estruturas de referência para tratamento dos casos são os hospitais estaduais Couto Maia, em Cajazeiras, e Otávio Mangabeira, em Pau Miúdo.
“Salvador vem se comportando bem, não temos nenhum caso confirmado e a cidade nem foi a porta de entrada no estado, como se esperava. Estamos ainda no primeiro estágio, que é de conter o vírus, evitando transmissão na cidade. Até ontem (12), foram 119 casos suspeitos, sendo 87 descartados e 32 em investigação. Não é fácil, mas é a primeira tentativa. Depois, vamos adotando cada escala a depender do momento, e podemos dizer que estamos preparados para todos os estágios“, completou Leo Prates.
Ações – As ações de prevenção e enfrentamento ao coronavírus em Salvador seguem a recomendação do Ministério da Saúde e são realizadas em articulação com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab). As medidas envolvem a criação de grupo de trabalho de enfrentamento ao vírus; elaboração do Plano Municipal de Contingência Covid-19, acompanhamento da situação com atualização diária; capacitação da rede assistencial do município; inspeções em shoppings e grandes centros comerciais; e orientações para serviços de saúde fundamentados em nota informativa conjunta.
A estratégia prevê, ainda, a realização de ações em conjunto com a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba); confecção e distribuição de material educativo; aquisição de insumos, funcionamento 24h do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde; laboratórios municipais seguirão fluxo de coleta e encaminhamento de mostras para o Laboratório Central do Estado (Lacen); e realização de sessão na Câmara de Vereadores sobre o assunto.
A lista traz, também, a priorização no atendimento da população de risco; realização de palestras para a comunidade; antecipação da campanha de vacinação contra a gripe; contratação de leitos; realização de exames diagnósticos e divulgação das ações realizadas pela SMS nos meios de comunicação.