Há pouco mais de um ano longe de casa, Marcela*, 27 anos, construiu nas ruas uma família e aguarda a chegada do primeiro filho. Por não ter dado início ao pré-natal, ela não consegue precisar de quantas semanas é a gestação e relata ter problemas de saúde que podem influenciar o bebê. “Vou sair da rua. Tenho hepatite e sífilis, não posso ficar aqui mais não”, confidenciou.
A história de Marcela se confunde com a realidade de aproximadamente 3,2 mil pessoas que vivem em situação de rua na capital baiana atualmente, de acordo com a última pesquisa realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDS) no ano de 2008. Para auxiliar nas demandas desde público e tentar reduzir este índice, a Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (Semps) dispõe de uma equipe de profissionais que realizam diariamente abordagens sociais em diversas áreas de Salvador.
Os profissionais identificam quais os cidadãos em situação de rua que possuem interesse em ser relocados para casas de acolhimento geridas pela Prefeitura. Nos bairros da Barra e Pelourinho, essas equipes de abordagem atuam de forma fixa, em função do alto índice de pessoas nas vias nestas localidades. De acordo com dados apresentados pela Semps, no primeiro trimestre deste ano foram acolhidas 415 pessoas, sendo que a maior parcela de acolhidos era composta por homens, contabilizando 327 abrigados. Do total, analisando homens e mulheres, 230 deles possuíam idade entre 18 e 39 anos.
Hoje Salvador dispõe de doze casas de acolhimento entre espaços próprios e conveniados. Através destas estruturas, o cidadão é acompanhado por uma equipe multidisciplinar que propõe a realização de atividades culturais e sociais para promover a reinserção do individuo no convívio social, comunitário e familiar. O cidadão também é encaminhado para resolução pendências com programas sociais como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida.
Cada uma das unidades possui um perfil de atendimento, podendo abrigar separadamente mulheres com filhos, mulheres ou homens sozinhos, e ainda casais com ou sem filhos. Ao todo, as unidades ofertam 600 vagas para acolhimento e atualmente existem 431 pessoas abrigadas nestes espaços. Em cada unidade, a exemplo do espaço localizado em Amaralina, que atende a casais com crianças, ou em Itapuã, que acolhe o público feminino, são ofertados dormitórios com roupa de cama e três refeições diárias.
Ao final da estadia na casa de acolhimento, que pode ter duração de até seis meses, o cidadão pode obter o Aluguel Social, para que ele possa dar continuidade à própria vida sem necessitar voltar às ruas. Hoje 672 pessoas enquadradas no perfil de situação de rua recebem o benefício. O valor concedido através do auxílio pode chegar a R$300 e é disponibilizado até o cidadão adquirir condições de custear sua morada com recursos próprios – ou no caso de ser contemplado com imóvel através de algum programa habitacional.
Outras alternativas – Além do acolhimento institucional, a Prefeitura também disponibiliza três unidades do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), localizadas em Itapuã, Pau da Lima e na Avenida Vasco da Gama. Nesses locais, o cidadão pode obter orientações através de uma equipe multidisciplinar composta por advogados, assistentes sociais, psicólogos, educadores sociais e pedagogos.
O espaço também oferta refeições e banheiros para higienização. São atendidas no local pessoas encaminhadas através das abordagens sociais ou que procuram os espaços por conta própria. O atendimento é realizado das 8h às 12h e das 13h às 16h30.