Depois que Leda Nagle usou as redes sociais para repercutir sua demissão, foi a vez do Presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) – que gerencia a TV Brasil – se pronunciar sobre o episódio. Em sua conta pessoal no Facebook, Laerte Rimoli publicou um longo desabafo, no qual ele rotula as reações da jornalista como sendo parte integrante de um “show”. Mas esta não seria uma novidade já que, segundo ele, o relacionamento com a comandante do “Sem Censura” sempre foi “tempestuoso”.
“Comunicamos à jornalista Leda Nagle que a empresa não poderia manter, em 2017,o contrato dela, da forma como estava. R$ 1,3 milhão ao ano, com o uso de estúdios e 4 produtores da empresa, na rubrica investimento, por tratar-se de co-produção. Nos meses de janeiro e fevereiro, os programas eram gravados e a profissional desfrutava de 60 dias de folga. (…) Neste ano de 2017, uma novidade: Leda recebeu um generoso convite de um amigo (relato dela) e ficaria mais 2 semanas fora, em março, para conhecer Dubai”, informou.
O executivo enfatiza que Leda não gostou de ser cobrada sobre eventuais mudanças no “Sem Censura”. “Ela entrou na sala, perguntou quem era o Caíque [Novis, Superintendente da TV Brasil] e disparou: o programa está ótimo, não precisa de mudanças. Quando eu disse o contrário, o mundo desabou. Você está me demitindo, gritou, furiosa”, prosseguiu. Para tentar acalmar os ânimos, a jornalista Cida Fontes, também presente na reunião, propôs à Leda uma prorrogação do contrato atual por dois meses.
Quando esse prazo expirasse, novos termos seriam discutidos, tendo como base o acordo firmado com a jornalista Roseann Kennedy. Mediante a oferta, a mãe de Duda Nagle teria ficado transtornada. “Aí Leda foi a Leda que todos conhecemos: ‘Não sou Roseann Kennedy, tenho 40 anos de profissão. Você sempre quis me demitir, Cida Fontes, não entende nada de televisão. Não vou brigar com você, Laerte, que é meu amigo (imagina se não fosse). Os concursados da EBC são incompetentes, desinformados, não gostam de trabalhar’. Levantou-se, parou em pose dramática na porta da sala e pespegou: “vou tornar isso público’”,ironizou.
Laerte Rimoli reitera que o título “Sem Censura” não pertence à Leda Nagle e que as relações com a jornalista “sempre foram tempestuosas” durante os 21 anos em que ela permaneceu na bancada do programa. Antes de pôr um ponto final em seu desabafo, ele comenta as manifestações de apoio que a apresentadora recebeu da classe artística. “É comovente ver a reação dos amigos, jornalistas, artistas que a apoiam. Cegamente, sem ter informações do outro lado (regra básica do bom jornalismo). Torço, do fundo d’alma, para que Leda Nagle encontre seu rumo. Amigos, com certeza, não lhe faltarão”, encerrou, assegurando que não apenas o contrato de Leda, mas o de todos os colaboradores serão revistos.
Com a palavra, quem trabalha na TV Brasil
Via de regra, os funcionários da TV Brasil endossam o depoimento de Laerte Rimoli. Um deles fez relatos de bastidores ao RD1, sob a condição de que sua identidade fosse preservada. A versão foi checada e confirmada com outros dois colegas. “Primeiramente é importante dizer que o apoio externo que a apresentadora vem recebendo não é reflete a maneira como ela é quista dentro da emissora”, resumiu.
Segundo esse colaborador, Leda Nagle frequentemente se referia aos funcionários concursados em tom de deboche. Por causa disso, a rotatividade na produção do “Sem Censura” sempre foi alta: eram constantes os casos de profissionais que requeriam seu afastamento após apenas uma semana de trabalho. Nem mesmo Cristina Ferreira, diretora do programa e amiga de longa data da jornalista, teria suportado a sua personalidade forte.
“A situação é tão conflitante que nenhum funcionário da EBC aceita mais trabalhar com a Leda. Ninguém quer ser humilhado”, dispara a fonte, que chega a ressaltar que, nas raras vezes em que a veterana está de bom humor, a produção entra em um verdadeiro clima festivo. “Ela não faz o programa com só com funcionários concursados da EBC porque é preconceituosa e gosta de fazer birra”, relata.
Por fim, este funcionário garante que, mesmo após a saída da veterana, a TV Brasil faz planos para manter o “Sem Censura” em sua grade. Já há, inclusive, um nome em vista para substituí-la: trata-se da jornalista Vera Barroso, que já comanda o “De Lá Pra Cá”. O RD1 tentou contato com Leda Nagle pelo Facebookpara que ela pudesse se defender destas acusações, mas até o fechamento deste texto, não obteve retorno. O espaço continua aberto.
O outro lado
Também pelo Facebook, Leda Nagle rebateu Laerte Rimoli na manhã desta terça-feira (13). A jornalista afirma que houve uma tentativa de desqualificá-la “pessoal e profissionalmente”. “Em nenhum momento Laerte Rimoli ou seus assessores me propuseram redução de valor do contrato ou qualquer tipo de negociação. Apenas me apresentaram um contrato de dois meses, sob a alegação de que ‘em março nós poderíamos até conversar’ ou que eu poderia fazer um talk show… E o que é o Sem Censura se não um talk show?”, questionou.
Ainda em sua defesa, Leda alegou que os valores divulgados pelos dirigentes da EBC não condizem com a realidade. Para dar a impressão de que ela estaria lesando a TV ou o país, as cifras de seu contrato foram aumentadas, argumentou Leda que, de quebra, aproveitou para fazer uma analogia com a atual situação político-econômica do país. “Ao longo destes 20 anos, em nenhum momento, nunca, recebi nenhum dinheiro da tv sem trabalhar. Sou à prova de Lava Jato. E, como boa jornalista, comprometida com a verdade, me sinto no dever moral – e tenho moral para isto – de esclarecer a questão”, ponderou.
A mãe de Duda Nagle garantiu que está bastante chateada com toda essa situação. “Aprendi faz tempo que o dono da bola é o dono do jogo. Mas o apito final soou de maneira feia e deselegante. De um jeito traidor. Fiquei triste. Não nego. E quem não ficaria se estivesse no meu lugar? Foi numa reunião onde eu estava sozinha e o Presidente da EBC se fazia acompanhar de vários assessores e advogado. Me apresentou um contrato de 2 meses, de 5 de novembro (e isto foi no dia 7 de dezembro) a 5 de janeiro, coincidentemente, dia do meu aniversário . Belo presente”, ironizou.
Para finalizar, Leda garante que só está insistindo no assunto “por não suportar injustiças”. E agradeceu às inúmeras manifestações que recebeu, que a fizeram chorar muitas lágrimas de emoção. “Mas este capítulo tem que ser encerrado. Chega de lavar roupa suja. Já gastamos muita água e sabão. Obrigada a todas e todos e espero revê-los em breve noutro projeto. Com certeza. Se Deus quiser”, despediu-se.
Leia, na íntegra, os dois desabafos. Primeiro, o de Laerte Rimoli.
Agora, a resposta de Leda Nagle.
RD1