Este mês, o filme longa-metragem ‘A Luta do Século’, do baiano Sérgio Machado, que trata da rivalidade de mais de 20 anos entre pugilistas nordestinos, ganhou o prêmio de Melhor Documentário no Festival do Rio 2016. O que começou com uma pesquisa para um longa de ficção, se transformou no documentário que conta a história dos pugilistas Reginaldo Holyfield e Luciano Todo Duro, ícones do boxe no Nordeste e conhecidos pela rixa que já gerou polêmicas e brigas fora dos ringues. Contando com recursos do Governo do Estado, por meio do Fundo de Cultura da Bahia (FCBA), essa é uma das produções audiovisuais premiadas que recebem esse tipo de apoio por meio de editais.
Documentário conta a história dos pugilistas Reginaldo Holyfield e…
Para a produção, cerca de R$ 550 mil foram recursos de edital do Governo do Estado, o que, para Machado, também conhecido por trabalhos como ‘Cidade Baixa’, é fundamental para a cinematografia brasileira. “Hoje, no Brasil, é impossível fazer cinema sem o apoio do Estado. Fora dos Estados Unidos, há pouquíssimos lugares onde isso é possível. Acho importante o trabalho que editais como os da Bahia e a Ancine [Agência Nacional do Cinema] têm feito. Agora é ‘super’ importante que os governos mantenham essa regularidade e que essas iniciativas sejam constantes para a criação de uma cultura cinematográfica brasileira”.
…de Luciano Todo Duro, ícones do boxe no Nordeste. Fotos: imagens extraídas de vídeo
Nesse sentido, somente este ano foram aprovados 54 projetos de audiovisual, no edital que reúne R$ 14,5 milhões com recursos dos governos estadual e federal, por meio de parceria com a Ancine. O investimento é para todas as categorias de produção, além da formação, desenvolvimento de projetos e difusão. Para o secretário estadual de Cultura, Jorge Portugal, o apoio do Governo faz crescer o número de interessados e incentiva a produção dentro da própria Bahia.
Segundo Portugal, o audiovisual foi um dos setores que durante um bom tempo foi penalizado por uma verba limitada. “Este ano, viramos essa história com o novo edital. Aumentamos a oferta de apoio e isso excitou mais ainda todo o mercado de produtores, de proponentes que, sem dúvida, se multiplicou de um ano para o outro. Além de movimentar a economia cinematográfica, esse tipo de investimento projeta a nossa cultura, o nosso estado, a partir do momento que a vemos retratada nas telas. Salvador é uma cidade cenário e torcemos para que seja ainda muito mais explorada como locação para as produções baianas”.
Portugal: apoio do Governo faz crescer número de interessados e incentiva produção dentro da Bahia .
Editais de eventos calendarizados
E, se a produção já foi premiada no Rio, é com expectativa de grande público que ‘A Luta do Século’ será exibido pela primeira vez na Bahia, no dia 16 de novembro, durante o XII Panorama Coisa de Cinema, evento que faz parte do calendário baiano de promoção e divulgação de produções audiovisuais. Este ano, o Panorama acontece em Salvador e Cachoeira, no Recôncavo baiano, no período de 9 a 16 do próximo mês, promovendo mostras competitivas (nacional, internacional e baiana) e oficinas.
Marques: “Calendarizado foi o grande tipo de edital que surgiu no Brasil nos últimos anos”.
Para promover programação tão extensa, o Panorama também conta com o apoio do Governo do Estado, via editais de eventos calendarizados, que incentiva e investe na realização de atividades culturais que tenham regularidade, garantindo estabilidade e também a formação de um calendário voltado aos diversos segmentos da cultura. Realizados a cada três anos, a iniciativa garante a continuidade das produções culturais, como afirma o coordenador e idealizador do ‘Coisa de Cinema’, o cineasta Cláudio Marques.
De acordo com Marques, o Calendarizado foi o grande tipo de edital que surgiu no Brasil nos últimos anos. “Ele dá uma tranquilidade e uma segurança para o produtor que a gente não tinha antes. Vemos em outros estados, onde não há essa modalidade, uma dificuldade muito grande em ‘prever’ o ano seguinte. Aqui, conseguimos potencializar muito o Panorama, ter um alcance que não tínhamos. Já existe um novo edital para mais três anos e o meu desejo é que a ideia se expanda para outras áreas”.
Bertran Duarte: Bahia se destaca em relação a outros estados pela qualidade técnica dos profissionais.
Dimas
Além dos editais, a Diretoria de Audiovisual (Dimas), da Fundação Cultural do Estado (Funceb), localizada no bairro dos Barris, em Salvador, foi criada para dar apoio e fomento à produção do setor, trabalhando na difusão, por meio dos espaços que podem ser cedidos aos cineastas em início de carreira, querendo mostrar seus filmes, como a sala Walter da Silveira, promovendo atividades como o Cineclube Walter da Silveira. Além disso, a diretoria abriga uma TV digital (TV Dimas), um vasto acervo de memória do cinema baiano com materiais em películas, fitas cassetes, DVDs, livros, cartazes, e um Núcleo de Apoio à Produção (NAP) que realiza empréstimos de equipamentos a pequenas produções sem apoio financeiro.
Fotos: Carla Ornelas/GOVBA
Para o diretor da Dimas, Bertrand Duarte, a Bahia começa a se destacar em relação a outros estados também em face da qualidade técnica dos profissionais baianos. “Atualmente, temos, no estado, 150 produtoras registradas na Junta Comercial em plena atividade, produzindo material para o setor. Além disso, é constante a formação de grandes profissionais que despontam no cenário nacional e inclusive exportamos essa mão de obra.
Fundo de Cultura da Bahia
Administrado pelas secretarias estaduais de Cultura (Secult) e da Fazenda (Sefaz), o FCBA foi criado em 2005 para incentivar e estimular as produções artístico e culturais baianas, por meio do custeio de projetos culturais de pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado. Estruturado em quatro linhas de apoio – Ações Continuadas de Instituições Culturais sem fins lucrativos; Eventos Culturais Calendarizados; Mobilidade Artística e Cultural e Editais Setoriais, tem como prioridade ações de baixo apelo mercadológico, o que dificultaria a obtenção de patrocínio junto à iniciativa privada.
Repórter: Anna Larissa Falcão
SECOM