Facebook
Twitter
Google+
Follow by Email
rtemagicc_marcha05-jpg
Fotos de Almiro Lopes/CORREIO

O tapete branco atravessa o Engenho Velho da Federação. Não, neste caso não se trata de mais um desfile do afoxé Filhos de Gandhy, apesar de os ideais serem parecidos. Estamos falando da 12ª Caminhada pelo fim da violência, da intolerância religiosa e pela paz, realizada na tarde desta terça-feira (15). Segundo os organizadores, ao menos 2 mil pessoas vestidas de branco, a maioria delas integrantes de terreiros de candomblé, participaram da manifestação.

Organizada por lideranças religiosas de matrizes africanas, a caminhada deste ano homenageou os educadores, desde os professores de escolas a Ialorixás do candomblé. Afinal de contas, seriam eles as principais fontes de ensino da tolerância entre os povos e as religiões. “Sem o educador não há futuro. Seja um professor formal ou uma mãe de santo, é ele que transmite paras as crianças os valores e os costumes”, afirmou Evandro Santa Rita, ogã do Terreiro do Cobre e organizador da caminhada.

Como ocorre todos os anos, os manifestantes se reuniram no final de linha do bairro, onde fica o monumento em homenagem a Mãe Runhó, a Doné Runhó, do Terreiro de Bogum. No percurso, que seguiu do Engenho Velho pela avenida Cardeal da Silva e depois avenida Vasco da Gama, o povo de santo manifestava seu repúdio contra o desrespeito à liberdade de culto. Não faltaram relatos de intolerância e preconceito. Muitos deles relacionados com experiências do dia a dia.

“Uma vez pedi um táxi pelo telefone, o táxi chegou, mas não parou. Passou direto. Liguei para a empresa e a telefonista disse que o taxista não pegava ‘gente de terreiro’”, conta João Alcântara, do Terreiro do Cobre.

Já o babalorixá Andrei Amorim, do terreiro Ilê Axé Odé Faro Eran Omin, relata que teve arrancado por três vezes os assentamentos – as referências e símbolos dos orixás – que ficam na porta da casa. “Todas as vezes que eles tiraram eu coloquei de volta sempre com um assentamento a mais. A intolerância não vai nos vencer”, avisou o babalorixá, que é enfermeiro e estudante de fisioterapia. “Teve um paciente que se negou a ser atendido por mim simplesmente porque sou do candomblé”.

Durante a caminhada, à porta de cada um dos 18 terreiros do bairro, uma saudação era feita de acordo com a nação de cada casa – Ketu, Angola e Jeje. A caminhada começou em 2004, quando terreiros do bairro foram alvo de ataques movidos por igrejas neopentecostais. O caso mais emblemático foi o de Gildásia dos Santos, a Mãe Gilda, que morreu há 16 anos por problemas de saúde agravados pela perseguição religiosa, após seu terreiro ser invadido e violado.

Segundo Evandro Santa Rita, a convivência dos terreiros com igrejas dentro do Engenho Velho melhorou bastante e hoje consegue ser tranquila. “Até mesmo porque aqui somos muitos e nos impomos”, conta ele. Mas em outras regiões da cidade a intolerância se mostra bem viva. São invasões de terreiros, agressões e ataques a símbolos do candomblé.

Evandro lamenta o crescimento da perseguição em outros estados. Especialmente nas favelas do Rio de Janeiro. “Lá os donos de bocas de fumo e traficantes estão se tornando evangélicos. A coisa tá feia”, destaca Evandro. Enquanto isso, até mesmo representantes de outras religiões reforçavam a caminhada. “Jesus veio para cultivar o amor e a tolerância. Ele disse até para amar os inimigos, imagine o resto”, lembrou o padre Lázaro Muniz, capelão da Igreja do Rosário dos Pretos.

CORREIO

You may also like