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O primeiro escalão de Michel Temer preferiu evitar o nome do presidente ao fazer campanha no Facebook e no Twitter. Uma análise feita pelo G1 mostra que, dos 18 ex-ministros do emedebista que são candidatos nestas eleições, 4 citaram nominalmente o ex-chefe e 1 deles usou uma imagem do presidente em um vídeo de campanha. Em nenhum desses casos o tom foi abertamente elogioso.

Procurada, a assessoria de imprensa de Temer afirmou que “a Presidência não faz comentários sobre as eleições”.

O levantamento considerou todas as postagens dos 18 políticos feitas nas duas redes sociais entre 16 e 30 de agosto, período que compreende as duas primeiras semanas de campanha.

Os 4 candidatos que mencionaram o presidente são: Henrique Meirelles (MDB), Marcelo Calero (PPS), Roberto Freire (PPS) e Romero Jucá (MDB). Além deles, Ricardo Barros (PP) inseriu, em um vídeo, uma imagem de Temer de costas durante uma reunião com vários políticos, incluindo o candidato.

Para Márcia Dias, coordenadora do bacharelado em ciência política da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e especialista em comportamento político, tentar descolar sua imagem de um governante mal visto pelo público é uma estratégia clássica dos candidatos. Em junho, pesquisa Ibope mostrou que a aprovação do presidente havia caído para 4% (leia mais abaixo).

Com Temer foi citado
Henrique Meirelles (MDB), candidato a presidente, foi ministro da Fazenda entre maio de 2016 e abril de 2018 e publicou no Facebook um pedaço da entrevista à TV Record em que se esquiva do apoio do atual presidente. Ele afirma: “não sou candidato de Temer” assim como não é “candidato de Lula” — o presidenciável chefiou o Banco Central no mandato do petista.

Em outra postagem no Facebook, Meirelles diz que “acha que o Brasil não se divide entre quem gosta do Temer e quem não gosta do Temer”, mencionando também Lula e FHC. “O Brasil se divide entre quem trabalha e quem não trabalha”.

Marcelo Calero (PPS), candidato a deputado federal (RJ), foi ministro da Cultura entre maio e novembro de 2016. O político usou o Twitter para se referir a Temer como “picareta” ao criticar acordo para reajuste salarial que incluiu ministros do Supremo Tribunal Federal.

O ex-ministro da Cultura deixou a pasta em novembro de 2016 ao acusar Geddel Vieira Lima, então secretário de governo, de pressioná-lo para liberar um empreendimento imobiliário em Salvador no qual ele tinha comprado um apartamento. Geddel nega.

Roberto Freire (PPS), candidato a deputado federal (SP), chefiou o Ministério da Cultura entre novembro de 2016 e maio de 2017. Ao ser perguntado por um usuário do Twitter se “continuava com Temer”, afirmou que se afastou o governo do emedebista desde a saída do cargo, em maio de 2017.

Romero Jucá (MDB), ex-ministro do Planejamento, mencionou Temer 6 vezes no Facebook e cinco no Twitter. Na maioria das vezes, para falar da questão migratória em Roraima, estado pelo qual se candidata à reeleição. Jucá deixou a liderança no Senado em 27 de agosto, segundo ele, por discordar da política migratória de Temer para Roraima. No dia seguinte, entretanto, ele negou ter rompido com o presidente ou acenado à oposição.

11 elogiaram o próprio trabalho
Dos 18 ex-ministros e hoje candidatos, 12 mencionaram positivamente o trabalho que desempenharam à frente do ministério. Meirelles foi o único deles a citar Temer nominalmente. Os outros 11 ignoraram o atual presidente.

O G1 entrou em contato com todos para saber o motivo:

Bruno Araújo (PSDB), candidato a senador (PE), ministro das Cidades entre maio de 2016 e abril de 2018: a assessoria de imprensa não enviou resposta até as 20h desta sexta e disse que o candidato estava em viagem.
Helder Barbalho (MDB), candidato a governador (PA), ministro da Integração Nacional entre maio de 2016 e abril de 2018: a reportagem entrou em contato com a assessoria do candidato em três ocasiões nesta sexta-feira, mas não obteve resposta pois ele estava em viagem.
José Sarney Filho (PV), candidato a senador (MA), ministro do Meio Ambiente entre maio de 2016 e abril de 2018: a reportagem entrou em contato com a assessoria do candidato em cinco ocasiões por telefone e e-mail na tarde desta sexta-feira, mas não obteve resposta.
Leonardo Picciani (MDB), candidato a deputado federal (RJ), ministro do Esporte entre maio de 2016 e abril de 2018: Picciani afirmou, via assessoria, que tem feito “campanha abertamente a favor do candidato do MDB à Presidência, Henrique Meirelles. Aliás, o próprio Meirelles gravou vídeo de apoio à candidatura de Leonardo.”
Marcos Pereira (PRB), candidato a deputado federal (SP), ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços entre maio de 2016 e janeiro de 2018: o G1 procurou a assessoria do candidato em dez ocasiões por telefone e WhatsApp nesta sexta-feira, mas não obteve resposta.
Maurício Quintella Lessa (PR), candidato a senador (AL), ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil de maio de 2016 a março de 2018: a assessoria afirmou que Lessa “continua com a campanha dele, fazendo propaganda para ele e para as alianças dele, em uma campanha de Alagoas que não envolve a campanha nacional.”
Marx Beltrão (PSD), candidato a deputado federal (AL), ministro do Turismo entre agosto de 2016 a abril de 2018: a assessoria do candidato foi contatada por telefone diversas vezes na tarde desta sexta, mas não atendeu.
Mendonça Filho (DEM), candidato ao senado (PE), ministro da Educação entre maio de 2016 e abril de 2018: a assessoria de imprensa do candidato não enviou resposta até as 20h desta sexta porque ele estava em viagem.
Osmar Serraglio (PP), candidato a deputado federal (PR), ministro da Justiça e Segurança Pública entre março e maio de 2017: a assessoria de imprensa do candidato não enviou resposta até as 21h desta sexta.
Osmar Terra (MDB), candidato a deputado federal (RS), ministro do Desenvolvimento Social entre maio de 2016 e abril de 2018: a assessoria do candidato não enviou resposta até as 20h desta sexta porque ele estava em viagem;
Ricardo Barros (PP), candidato a deputado federal (PR), ministro da Saúde entre maio de 2016 e abril de 2018: o candidato afirmou que suas publicações são para prestar contas do trabalho à frente do Ministério da Saúde. “A gestão eficiente e de resultados que realizei como ministro da Saúde, só foi possível graças ao aval do presidente Temer que apoiou todas as minhas decisões”, disse ele.

Houve, ainda, quem não fez menção direta ao presidente nem ao trabalho à frente do ministério. Veja os casos e o que disseram os candidatos:

Antônio Imbassahy (PSDB), candidato a deputado federal (BA), secretário de Governo entre fevereiro e dezembro de 2017: em seus posts nas duas últimas semanas, Imbassahy menciona várias vezes sua experiência como prefeito de Salvador e como deputado federal, e menos frequentemente seu trabalho como governador da Bahia. Mas sua atuação durante quase um ano como secretário de Governo de Temer não apareceu. A assessoria de imprensa não respondeu aos contatos feitos entre as 16h50 e as 21h desta sexta.
Fernando Coelho Filho (DEM), candidato a deputado federal (PE), ministro de Minas e Energia entre maio de 2016 e abril de 2018: em seu perfil no Facebook, o candidato não cita Temer desde que deixou o ministério; durante a campanha, ele procurou focar suas redes sociais em seus feitos como deputado e no registro de suas caminhadas e eventos de campanha. A assessoria de imprensa do candidato não enviou resposta até as 20h desta sexta porque ele estava em viagem.
Ronaldo Nogueira (PTB), candidato a deputado federal (RS), ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços entre maio de 2016 e dezembro de 2017: pouco assíduo nas redes sociais, o candidato preferiu focar suas publicações no Facebook para divulgar sua agenda de campanha. Ao G1, o candidato afirmou que nunca usou “imagens de outros candidatos nas campanhas” e que não pretende fazer isso agora. “Eu não uso a imagem de outros, eu tenho o meu trabalho. Eu procuro atuar dessa forma. Eu cumpri minha missão como ministro”, acrescentou.
Nomeada, mas não empossada
Além dos 18 casos citados, o G1 pesquisou as postagens no Facebook e Twitter de Cristiane Brasil (PTB), que atualmente concorre a um cargo de deputada federal no Rio de Janeiro. Ela foi nomeada para o cargo de ministra do Trabalho em janeiro deste ano, mas teve a posse barrada pela Justiça.

O presidente chegou a recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir que Cristiane assumisse o cargo, mas não conseguiu. A assessoria de imprensa da candidata diz que ela não foi ministra, pois “para que alguém seja considerado investido na função nomeada, é preciso a posse, o que não houve”.

Cristiane também não citou Temer entre 16 e 30 de agosto em suas postagens nas redes sociais. A assessoria foi questionada, mas não indicou o motivo, e ressaltou que ela jamais tomou posse. “Querer agora dizer que Cristiane Brasil foi ministra é uma distorção jornalística que beira à má fé — ou a perseguição, pura e simplesmente”, afirma a assessoria.

Por que os candidatos evitam citar Temer?
De acordo com Márcia Dias, da Unirio, sempre que um governante é impopular, os aliados ou ex-aliados em campanha eleitoral se afastam dele para evitar o contágio dessa baixa aprovação.

No caso específico de Michel Temer, as políticas adotadas não foram percebidas pelo eleitor como benéficas, avalia a pesquisadora.

“Não se deve só às denúncias de corrupção, tem a ver com as medidas impopulares dele. Ele acreditava que estava fazendo o melhor pelo país, mas sabia que não ia agradar a maioria da população.”
Os que hoje são candidatos, mas ontem integraram o governo que tomou essas medidas, precisam evitar ao máximo que o eleitor faça essa aproximação, porque senão correm o risco de “cair em desgraça completa com o eleitorado”, diz Márcia Dias.

A pesquisadora afirma que uma tática, que é seguida por alguns dos ex-ministros, é mencionar apenas os feitos que o candidato fez especificamente em sua pasta enquanto integrava o governo. O desvio de foco serve para passar ao eleitor a imagem de que ele não representa o governo, e por isso não responde pelas medidas percebidas como negativas pelo público.

O candidato, diz ela, pode até estar por trás das medidas impopulares do presidente, “mas só quem aparece é o presidente”. Durante a campanha, ele pode dizer o que fez de positivo, “mas ele não vai fazer uma defesa do governo, vai tentar o máximo que puder se descolar disso”.

Criticar um presidente impopular ajuda a ganhar votos?
Depende. De acordo com a professora, na hora em que se inscrevem no processo eleitoral, os candidatos aceitam se colocar sob o crivo dos eleitores, que vão autorizar ou não que ele se tornem governantes. Porém, os eleitores não são tão ingênuos.

Ela explica que, mesmo em casos de impopularidade recorde como a registrada por Temer, é arriscado um ex-ministro dele usar esse fato criticando o presidente publicamente.

“A pior estratégia que existe é acreditar que ‘o inimigo do meu inimigo é meu amigo'”, explica a professora. “Para o eleitor, a coisa não funciona dessa forma, ele sabe quando é autêntica essa crítica, quando ela é feita desde antes.”
De acordo com ela, o eleitor sabe quem não é confiável. “Uma das coisas que o eleitor menos perdoa é incoerência, incongruência, traição.”

Fonte: G1

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