Um choque de divindades. Gil e sua música. E nada melhor do que “Palco” para dar o tom da noite, com régua e compasso, à la Gilberto Gil. Vocais em dia, cordas, percussão e metais harmonizando com a música do mestre baiano. Um desafio: que apareça uma criança, adolescente, adulto ou idoso que não cante ao menos uma frase do repertório.
“Estou representando a velha guarda, e é muito importante nesse momento de mudança, de virada de ano”, disse o compositor antes de começar a cantar “A Novidade”, e seu retrato fiel de um Brasil que avança em círculos. Lá estavam, de lados opostos: o poeta e o esfomeado, como na canção, dividindo o mesmo espaço, em êxtase.
Veio então, com o público dividindo a letra e as emoções, uma sequência de sucessos, ora de Gil, ora de outros, mas que já pertencem ao baiano por ser seu porta-bandeira há décadas, como Is this love (Marley), Woman no Cry (Marley) – cuja versão de Gil em nada deve ao clássico do reggae. E houve espaço ainda para Tempo Rei, Luxo Só (Ary Barroso), fazendo toda a arena sambar.
Com Chiclete com Banana, de Jackson do Pandeiro, Gil embalou a massa avisando que ia desmistificar a relação entre música e idade. E deu sua mensagem para o novo ano: “quando cheguei aqui, mais cedo, um repórter me perguntou qual musica minha poderia representar nosso atual momento. Eu pensei um pouco, refleti, e respondi que, sem dúvida, seria esta canção, e iniciou o dedilhado calmo de “A Paz”, dele e do pianista acriano João Donato.