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O laudo pericial da reconstituição do acidente que deixou Emanuel e Emanuelle Gomes Dias mortos concluiu que a médica Kátia Vargas perseguia os dois irmãos em alta velocidade. O carro de Kátia bateu na moto em que os irmãos estavam, projetando-os contra um poste. Os dois morreram no local, em Ondina, em 2013. O resultado do laudo foi divulgado nesta terça-feira (2).

O Ministério Público da Bahia (MP-BA) acusa a médica de intencionalmente perseguir e causar a morte dos dois irmãos, após se envolver em uma briga de trânsito com Emanuel. Já a defesa de Kátia Vargas alega que a batida aconteceu acidentalmente e que a médica não teve intenção de matar os irmãos.

O promotor David Gallo, do MP-BA, afirma que o laudo é “contundente” e fortalece a acusação. “O laudo traz tudo aquilo que venho falando nesses 3 anos. Tudo aquilo que as provas falavam, mas agora com uma prova pericial. O laudo confirma que ela saiu em perseguição deles, em alta velocidade, emparelhou com a moto e jogou contra eles. Ela usou o carro como arma, como poderia usar um revólver, uma barra de ferro, uma faca. Não é crime de trânsito. Isso a perícia comprovou”, afirmou ao CORREIO. “Agora é só marcar o julgamento. Não depende da gente, mas vamos cobrar agilidade”.

O advogado Daniel Keller, que representa a família dos irmãos, também comemorou os resultados do laudo. “O laudo da reconstituição do crime confirma tudo aquilo que a acusação tem dito desde o início. Houve perseguição, estava em alta velocidade, que ela emparelhou, jogou carro na moto e acabou impulsionando os dois irmãos contra o poste. Nenhuma surpresa (com o resultado), era o que a gente esperava”, diz o advogado. “Era a última peça que faltava, mas o juiz tem que abrir um prazo para que a defesa se manifeste sobre esse laudo, seguindo o princípio do contraditório. Após a manifestação deles, a juíza vai marcar o júri (…) Não tem mais fuga, recurso, já está decidido que vai ter o júri popular”, finaliza.

O assistente técnico contratado pela defesa, o perito Ricardo Molina, deve ser o responsável por fazer o parecer. A defesa tem prazo de 15 dias para se manifestar depois de ser notificada. O Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) publicou nesta terça despacho pedindo que ao laudo, já nos autos, sejam anexadas imagens da reconstituição – tanto de câmeras de segurança próximas quanto as que foram feitas por um drone. O CORREIO não conseguiu contato com a defesa de Kátia Vargas nem com o perito Molina.

Pelo Facebook, Marinúbia Gomes, mãe das vítimas, comentou o novo desenvolvimento do caso. “Espero em Deus que se faça Justiça!”, escreveu ela, recebendo apoio dos amigos e familiares.

Reconstituição
Em 11 de dezembro do ano passado, o Departamento de Polícia Técnica (DPT) organizou a reconstituição da morte dos irmãos em Ondina. Cinco testemunhas foram ouvidas e relataram no local o que viram, ajudando a perícia a simular o que aconteceu.

A primeira testemunha a participar da reconstituição foi um homem que fazia cooper no dia do acidente. Ele viu o momento da discussão entre a médica e os irmãos, viu quando a moto saiu e parou na sinaleira. Segundo ele, Kátia Vargas seguiu direto, esperou o sinal abrir e seguiu a moto. A testemunha chegou a pensar que a situação “daria merda”, segundo relato do promotor Davi Gallo.

A segunda testemunha passava em uma picape vermelha em frente ao Hotel Othon quando foi ultrapassada pelo carro de Kátia Vargas. O homem viu o momento que a médica atingiu a moto. A terceira testemunha estava caminhando pelo acostamento no meio da pista quando viu o carro da médica “fechar” a moto.

(Foto: Betto Jr/CORREIO )

(Foto: Bettto Jr/CORREIO)

A quarta testemunha, que está participando agora, passava em um Uno branco no sentido da Barra no momento do choque e também viu a colisão. A última testemunha a participar da reconstituição foi uma mulher que também passava pelo local no dia do acidente.

O advogado Daniel Keller disse que inicialmente ele achava desnecessárias a reconstituição. “Agora estou achando importante porque elas (testemunhas) só reafirmam as provas que estão nos autos”.

A reconstituição do caso contou com a presença de peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT), policiais, fotógrafos e professores da Universidade Federal da Bahia. Foram utilizados veículos do mesmo modelo que a médica e os irmãos utilizavam. O carro e a moto contaram com câmeras de precisão que ajudaram a reconstruir a cena do crime. “Vamos fazer a localização precisa das testemunhas. A reconstituição é mais eficaz de que um depoimento em uma sala fechada”, disse na época o professor Arthur Alves Brandão, do curso de Engenharia de Agrimensura e Cartográfica da Ufba.

A perícia usou ainda equipamentos de GPS e tecnológicos para medir com precisão o deslocamento e velocidade dos veículos. A reconstituição foi feita sob o comando do perito criminal Paulo Botelho e acompanhada pelo diretor do Departamento de Polícia Técnica, Elson Jéferson Neris Silva. Também estavam presentes o advogado da médica Kátia Vargas e um perito contratado por ela.

Crime
Os irmãos morreram em Ondina em outubro de 2013. Eles estavam em uma moto que sofreu uma batida do carro dirigido por Kátia Vargas – segundo a conclusão do inquérito policial e acusação do Ministério Público (MP), a batida foi provocada de maneira intencional pela médica. Ela havia discutido com Emanuel perto de um sinal pouco antes.

Emanuel e Emanuelle (Foto: Reprodução)

De acordo com o inquérito policial da 7ª Delegacia (DT/Rio Vermelho), a oftalmologista arremessou o veículo que dirigia, modelo Sorento, contra uma moto Yamaha XTZ pilotada por Emanuel Gomes Dias que trazia na garupa sua irmã Emanuele Gomes Dias, projetando-os contra um poste, em frente ao Ondina Apart Hotel, resultando na morte instantânea dos irmãos.

Imagens gravadas do local mostram o carro da médica seguindo atrás da moto antes da batida.

Após as mortes, Kátia ficou por 58 dias no Presídio Feminino, no Complexo Penitenciário da Mata Escura, quando foi solta após a expedição de alvará assinado pelo juiz Moacyr Pitta Lima. Em 2014, o Tribunal de Justiça da Bahia decidiu que ela deveria ir a júri popular.

CORREIO

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