Por Julia Duailibi
Julia Duailibi é comentarista de política e economia da GloboNews.
Após a divulgação de áudio em que o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) aparece falando que o governo deu uma “trava” na Petrobras, o ministro Paulo Guedes (Economia) evitou polemizar com o colega. “Ele é muito leal e tem me ajudado muito”, disse Guedes ao blog sobre a atuação do ministro da Casa Civil. A avaliação comum no governo e no Congresso, porém, é a de que Onyx deveria se concentrar na articulação política no Parlamento, onde o governo encontra dificuldade de montar uma base aliada para aprovar as reformas propostas por Guedes – a primeira delas, a Previdência, que deve ser votada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na terça-feira (23).
O ministro da Economia voltou a defender que a Petrobras é livre para definir os preços, apesar das declarações de Onyx. Disse ser a favor de mais transparência e “regras claras” na política de reajuste de preço dos combustíveis pela Petrobras e citou o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que se reúne com periodicidade definida para estipular a taxa de juros básica da economia. “O Castello Branco (presidente da Petrobras) tem que ser o Copom do petróleo”, declarou.
Uma das questões no radar da equipe econômica é aumentar a periodicidade de reajuste do diesel de 15 dias para no mínimo 30.
Onyx tem boa relação com grupos que representam os caminhoneiros autônomos, o que faz com que ele leve ao presidente Jair Bolsonaro as demandas da categoria. O vai-e-vem acaba gerando ruídos, o mais significativo deles na semana passada, quando diante da informação de que poderia haver uma paralisação, Bolsonaro ligou para o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, questionando-o sobre o reajuste de 5,7% do diesel, sem falar antes com Guedes. Agora, a divulgação do áudio em que Onyx confirma que o governo atuou para alterar a periodicidade do reajuste do diesel em março, que passou de uma semana para no mínimo 15 dias.
Guedes disse que tem trabalhado em parceria com Onyx para a aprovação da reforma da Previdência, o que o fez se lembrar de uma passagem recente na casa do economista Armínio Fraga, no Rio de Janeiro. Guedes saía da casa de Armínio após um jantar quando recebeu um telefonema de Onyx para falar da reforma. Começou a conversar com o titular da Casa Civil, uma mão segurando o celular, a outra livros que haviam sido emprestados pelo anfitrião. Guedes, concentrado na conversa, foi andando pelo jardim e acabou caindo de roupa na piscina da casa de Armínio. Apesar da água na altura da cintura, manteve a ligação, da piscina mesmo, até terminar a conversa com Onyx.
O ministro falou sobre a indexação do preço do diesel ao frete – uma das maiores reclamações dos caminhoneiros é o fato de a tabela com frete mínimo, criada no governo de Michel Temer como resposta à greve de 2018, não estar sendo cumprida. Citou o caso americano, onde há 30 anos, segundo ele, há uma indexação no setor: aumentou o diesel, aumentou o frete. Ele deu um exemplo: “Se o aumento do diesel for de 5% no meio da viagem do caminhoneiro, o impacto no preço do frete será de 2,5%, porque o diesel tem o peso de quase metade do frete. Mas como foi só na metade da viagem, o impacto é metade dos 2,5%, é de 1,25%”.
Questionado sobre a privatização da empresa, algo que Bolsonaro disse ao blog da Natuza Nery ver com “simpatia”, Guedes afirmou que isso é uma questão para o “medíssimo” prazo. Antes, porém, a empresa vai se concentrar no seu negócio principal, que é exploração do petróleo. A Petrobras já avisou que pretende vender 50% das suas refinarias, até como forma de aumentar a competição no setor e tentar, assim, baixar o preço do combustível. Hoje a Petrobras possui um monopólio de fato do refino, com mais 90% da produção das refinarias.