Com a substituição dos trens do subúrbio pelo Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), a tarifa paga pelo usuário vai aumentar em 700%. O modal que atualmente custa R$ 0,50 vai passar o custar o mesmo preço do Metrô e dos ônibus urbanos, que atualmente é de R$3,60. A informação foi confirmada pelo Secretário Estadual da Casa Civil, Bruno Dauster, ao CORREIO.
Apesar da subida significativa de preço, o VLT deve melhorar muito a mobilidade no Subúrbio Ferroviário, beneficiando a população de 1,5 milhão de pessoas que vive nesta área da cidade. Com cerca de 19 quilômetros de extensão e 21 paradas, ele liga a região do Comércio a Paripe. O modal atual tem 13,6 km, 10 estações e liga os bairros de Paripe a Calçada.
Obras do VLT devem começar no segundo semestre deste ano (Foto: Divulgação/ Casa Civil) |
A estimativa é que quando as obras estiverem concluídas o trajeto entre a primeira e última estação seja feito em 40 minutos. Atualmente, ir do Comércio até a Paripe de ônibus no horário de pico leva em torno de 1h45 minutos. O tempo de espera para entrar num vagão também vai diminuir, vai passar de 40 para 6 minutos.
O VLT será formado por 20 composições de tração elétrica, com capacidade de levar mais de 600 passageiros. Cada carro será composto por quatro vagões climatizados, com espaço para 150 pessoas em cada. Os trens do Subúrbio transportam diariamente entre 9 e 12 mil pessoas. Com a implantação do VLT, a expectativa do governo é passar a transportar 100 mil pessoas por dia, quase dez vezes mais.
Integração
A ideia é que o VLT esteja integrado às linhas 1 e 2 do metrô e aos roteiros do BRT (Transporte Rápido por Ônibus) metropolitano por meio de um túnel, que ligará a parada do Comércio até uma nova parada na Estação da Lapa.
“Essa extensão será dada como opção para o vencedor da etapa. Ele tem que apresentar um novo projeto em até um ano após assinatura do contrato”, explica o secretário Bruno Dauster. Este novo trecho custa entre 100 a 150 milhões. Caso o vencedor da licitação não queira executar a obra, uma nova empresa será escolhida.
Ainda não se sabe se a construção do VLT levará a extinção de linhas de ônibus urbano. Como o sistema não tem nenhuma restrição em relação à concorrência de outros modais – como acontece com o Metrô, a mudança no transporte sobre rodas dependerá de um estudo da Prefeitura.
A ideia é que, assim como acontecerá com o metrô, os três serviços de transporte coletivo da capital sejam integrados por meio de um bilhete único.
Construção e desativação
A primeira fase das intervenções contemplará o trecho entre o Comércio e Plataforma, de 9,4 quilômetros. A segunda é entre as estações de Plataforma e São Luiz, de 9 quilômetros.
Atualmente o sistema possui 13,6 quilômetros. O VLT terá 18,5 quilômetros de extensão e 21 paradas (Foto: Evandro Veiga) |
Durante a primeira etapa da construção, os sistemas de trens e VLT funcionarão simultaneamente. Isso porque entre o Comércio e Plataforma não há sistema de trens funcionando. Na segunda, as estações serão desativadas parcialmente, de acordo com o avanço das obras.
Quando o VLT estiver em pleno funcionamento, as dez estações dos Trens do Subúrbio serão desativadas. Segundo o secretário da Casa Civil, Bruno Dauster, elas não serão mais necessárias porque as paradas do trem serão rebaixadas, a nível do solo, tornando desnecessária a plataforma de embarque e desembarque.
O governo do estado pretende reaproveitá-las de alguma forma, mas ainda será realizado um estudo para ver qual tipo de uso social será dado. Porém, durante a abertura dos trabalhos da Assembleia Legislativa de 2017, o governador Rui Costa deixou escapar que quer aproveitar o potencial turístico da região do Subúrbio, com a liberação da vista, trazida pelo VLT.
“Os muros saem e nós vamos ganhar uma nova orla de Salvador que hoje, sim, está segregada. Aquela beleza que está escondida, separada do povo e dos turistas por um trem, será descortinada, abrindo a possibilidade de muitos investimentos, sejam imobiliários, sejam de bares, de restaurantes, hotéis, pousadas, que poderão se alocar ao longo desse contorno, tendo a exuberância da Baía de Todos os Santos à sua frente”, disse, o governador.
Saindo do papel
O aviso de licitação para implantação e concessão do Veículo Livre sobre Trilhos (VLT) foi publicado ontem no Diário Oficial da Bahia. O Edital nº 01/2017 estará disponível a partir de hoje no site da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur). O prazo da concessão é de 30 anos.
As propostas para o firmamento de uma Parceria Público Privada serão recebidas e abertas no dia 30 de junho, na sede da BM&FBOVESPA, em São Paulo. A previsão é que as obras comecem em até 90 dias após a assinatura do contrato da PPP, enquanto o prazo estimado para conclusão é de 24 meses.
Atraso
O VLT está atraso em pelo menos dois anos. O primeiro projeto foi enviado para captação de recurso no Ministério das Cidades em 2011 e o edital de licitação chegou a ser anunciado para 14 de agosto de 2015. O certame foi adiado diversas vezes. A primeira foi por ajustes técnicos nos projetos solicitados pela Prefeitura e a segunda, prevista para 2016, foi devido à mudança no regime de financiamento da obra.
A intervenção de R$1,5 bilhão seria custeada com recursos do governo federal, por meio do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC). O envio da verba acabou sendo suspenso pela esfera federal e a modalidade de contratação foi alterada para Parceria Público Privada.
A obra passou a ser financiada através um empréstimo privado. Após a realização de um chamamento público, a empresa Índico foi escolhida para financiar as obras, com juros cobrados de 6% ao ano.
Obras para melhorar trânsito
Salvador é a segunda cidade mais congestionada do país, atrás somente do Rio de Janeiro, segundo o Relatório Tomtom Traffic Index 2017. Na América do Sul, a capital baiana ocupa a quarta posição e a nível mundial a 28ª.
Nos horários de pico, o tempo de viagem aumenta em média em 40% em relação aos períodos de trânsito livre. Quando se analisa o pico noturno, o trajeto pode levar até 70% a mais de tempo para ser feito.
Para tentar destravar o trânsito de Salvador, o poder público tem investido recursos e desenvolvido projetos para melhorar a mobilidade urbana. Os investimentos parecem ter dado resultado, já que o nível de congestionamento diminuiu em 6% entre os rankings de 2015 e 2017.
(Foto: Arquivo CORREIO) |
O secretário da Casa Civil, Bruno Dauster, destaca os investimentos do Estado realizados com a implantação do metrô e do VLT. “Fez-se a opção de implantar esse sistema de transporte por trilho porque esse transporte de alta capacidade reduz o número de ônibus e carro circulando”, aponta.
Além disso, ele destaca o alargamento da Paralela, a implantação viadutos de retorno, a construção dos viadutos do Imbuí-Narandiba, a Avenida 29 de Março, o metrô e essas obras de complementares Via Expressa, como outras intervenções que ajudaram a destravar a cidade.
O secretário de Mobilidade Urbana de Salvador, Fábio Motta, diz que para resolver de vez o problema de mobilidade da cidade só falta a obra do Sistema BRT, que vai ligar o Iguatemi até a Lapa, com um braço entrando pelo Itaigara, ficar pronta. “Nós teremos a melhor mobilidade do Brasil. Nós somos, em seguida do Rio de Janeiro, a cidade que mais investiu mobilidade urbana”, prevê, animado.
Ele aponta que desde o início da gestão do prefeito ACM Neto grandes gargalos do trânsito já foram destravados, como o do bairro de Cajazeiras, solucionado com a ligação entre Cajazeiras V e X e a construção de uma nova saída para o bairro, que conectou o bairro a BR-324 passando por Águas Claras.
Outro gargalo que foi melhorado foi o do bairro do Iguatemi. “Resolvemos um problema crônico na Avenida ACM, com alterações nas baias de ônibus, mudança de sinaleira, melhoramos muito nos dois sentidos”, avalia. Motta ainda acrescenta as obras de Duplicação da Avenida Luiz Maria, na Baixa do Fiscal, a construção de vias marginais na Avenida Luiz Viana Filho, a Paralela.
No dia 22 de maio, será inaugurada a próxima intervenção da Prefeitura, um viaduto que liga o Shopping Paralela até o bairro da Paz. Outro viaduto saindo do centro comercial já foi entregue pela Prefeitura, o que faz a ligação com o bairro de Pituaçu.
Porém, Fábio Motta enxerga a obra do BRT, que vai retirar todas as sinaleiras das Avenidas ACM e Juracy Magalhães, fazer uma via exclusiva de ônibus ligando o Iguatemi a Lapa e tirar cerca de 140 ônibus que passam pela região do Iguatemi, como a de maior impacto.
O trecho pelo qual o BRT vai passar concentra 70% do fluxo de viagens de ônibus e melhorias nessa região vão impactar o tráfego na Pituba, Avenida Tancredo Neves, Vale das Pedrinhas, Rio Vermelho, Ondina, além de outros bairros da cidade.
Fonte: Carol Aquino – CORREIO