Dos 35 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 31 participam da eleição para a Presidência, agrupados em 13 candidaturas de partido único ou coligações. Mas, se eles são adversários no plano nacional, a situação é diferente nos estados, segundo uma análise dos dados das chapas nacionais e de 199 candidaturas aos governos dos estados e do Distrito Federal feita pelo G1.
As informações foram obtidas junto aos próprios partidos e nas atas que eles entregaram à Justiça Eleitoral e mostram as diferentes relações entre as legendas a partir de cada chapa presidencial. Foram levadas em conta as alianças formalizadas em coligações ou não.
De acordo com especialistas ouvidos pelo G1, alguns motivos explicam a aparente incoerência entre as alianças dos partidos:
A união dos partidos em torno de nomes, e não de ideologias
A prevalência dos interesses regionais nas campanhas para governador
O grande número de partidos políticos
A extensão territorial do país
Eles também dizem que esses fatores fazem com que as discrepâncias pouco influenciem o voto para presidente (leia mais no fim da reportagem).
O resultado é um emaranhado de alianças que transcendem qualquer definição do espectro político nacional:
Veja a situação detalhada de cada candidatura à Presidência da República, em ordem alfabética:
Álvaro Dias (Podemos)
A chapa de Álvaro Dias tem aliança nos estados com partidos de 8 chapas adversárias na disputa da Presidência: Ciro, Daciolo, Meirelles, Marina, Lula, Bolsonaro, Alckmin e Goulart Filho.
O Podemos oferece apoio a 21 candidatos a governador, mas nenhum deles é de partidos que participam de sua coligação em nível nacional. Além disso, a sigla é cabeça de chapa para o governo em 3 estados, em alianças que receberam o apoio de 12 partidos, inclusive 4 que lideram chapas na disputa nacional: MDB, Rede, Patriotas e PPL.
Cabo Daciolo (Patriota)
O Patriota concorre sozinho à Presidência, mas a situação é diferente nos estados. A sigla só tem um candidato a governador, em Santa Catarina, que se aliou ao PMN localmente. Mas o Patriota oferece apoio ao PMN e a outros 13 partidos em 25 estados. Cinco são cabeças de chapa de adversários na disputa presidencial: MDB (Meirelles), Podemos (Álvaro Dias), PSDB (Geraldo Alckmin), PSL (Jair Bolsonaro) e PT (Lula).
Ciro Gomes (PDT)
Os partidos da coligação de Ciro Gomes (PDT e Avante) se aliam regionalmente a 8 candidaturas presidenciais adversárias. Em 9 estados, o PDT dá apoio a 19 dos demais 33 partidos que não estão em sua chapa nacional. Já os 2 candidatos do Avante a governos não recebem apoio do PDT.
Geraldo Alckmin (PSDB)
A coligação do PSDB de Geraldo Alckmin na disputa presidencial é a mais numerosa na eleição deste ano. Os 9 partidos da chapa oferecem apoio um para o outro em vários estados, mas eles também travam alianças com seus adversários em nível nacional. Só o PSDB aceitou o apoio local de 7 chapas rivais para a Presidência. Já os partidos coligados deram ou receberam apoio inclusive do PT, principal rival dos candidatos tucanos desde a eleição de Fernando Henrique Cardoso em 1994. Das siglas com candidato a presidente, as agremiações reunidas por Alckmin só não se ligam com o PSTU de Vera Lúcia e o Novo de João Amoedo.
Guilherme Boulos (PSOL)
O PSOL, de Guilherme Boulos, se aliou ao PCB para disputar a Presidência. Em nível regional, essa aliança se repete em 15 estados, sempre com o PCB oferecendo apoio ao candidato psolista. Mas o PSOL também recebe apoio de 2 partidos de rivais nacionais: o PPL, do candidato à Presidência João Goulart Filho, no Pará, e o PSTU, de Vera Lúcia, em Roraima.
Henrique Meirelles (MDB)
A coligação de Henrique Meirelles tem 2 partidos, o MDB e o PHS. Mas, nos estados, as siglas juntas darão e receberão apoio a 28 dos outros 33 partidos existentes no país, inclusive os de 9 chapas presidenciais rivais. 12 dos 13 candidatos a governador do MDB recebem apoio de pelo menos um de 26 partidos diferentes – São Paulo é a única exceção. Novo, PSOL, PCB, PSTU e PCO são as únicas siglas que não se aliaram a MDB ou PHS nos estados.
Jair Bolsonaro (PSL)
Jair Bolsonaro (PSL) tem um único partido aliado para disputar a Presidência: o PRTB. Mas, nos estados, essas duas legendas se aliam a partidos de outras 9 chapas nacionais. O PSL se aliou regionalmente com 17 partidos que, nacionalmente, integram ou lideram chapas adversárias, como Patriota e PDT. O PRTB, com 12, inclusive os cabeças de chapa PT (Lula), MDB (Meirelles), PSDB (Alckmin), Podemos (Dias) e Rede (
João Amoedo (Novo)
O Novo, do presidenciável João Amoedo, lançou 5 candidatos a governador (DF, MG, RJ, RS e SP). Assim como na disputa nacional, o partido não fez coligação com nenhuma outra sigla nas disputas estaduais, seja recebendo ou dando apoio durante a campanha eleitoral.
João Goulart Filho (PPL)
João Goulart Filho, do PPL, concorre sem apoio de outros partidos à Presidência da República e seu partido não lançou candidato a governador. Mas, nas disputas estaduais, a sigla se aliou a outras 9, que participam de 8 chapas de adversários na campanha presidencial.
José Maria Eymael (DC)
Assim como Goulart Filho, José Maria Eymael, concorre sozinho à Presidência. Mas o DC, seu partido, distribuiu apoio a 13 partidos diferentes em 23 estados, sendo que todos, menos o PSB, estão em lados opostos na disputa nacional. A sigla tem 2 candidatos para governador, no Piauí e em São Paulo, mas não recebeu apoio de nenhum outro partido.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Assim como a chapa de Meirelles, a chapa PT-PCdoB-PROS, que lançou Lula como candidato à Presidência, tem alianças com 28 dos 32 partidos restantes – as exceções são Novo, PCB, PSTU e PCO. Eles participam de 9 chapas adversárias. De 20 partidos que, em 2016, tiveram pelo menos metade de seus congressistas votando a favor do impeachment de Dilma Roussef, o PT aceitou o apoio de 15 para seus candidatos ao governo. Em 4 estados o partido não conta com alianças.
Marina Silva (Rede)
A coligação de Marina Silva (Rede-PV) para a Presidência da República não se repete na maior parte dos casos estaduais. A Rede lançou 11 candidatos a governador, mas em 4 casos houve coligação com outras siglas, e em um deles o PV ofereceu apoio. Já o Partido Verde tem 2 candidatos ao governo, e só um conta com apoio da Rede. Porém, a legenda de Marina faz alianças com 15 outros partidos, enquanto o PV se ligou a 18 siglas. No total, eles se relacionam a 8 adversários na disputa presidencial.
Vera Lúcia (PSTU)
A candidatura de Vera Lúcia pelo PSTU não recebe apoio de nenhum outro partido na disputa presidencial, assim como as 12 candidaturas que o partido lançou para governos estaduais. Apesar de não receber apoio de nenhuma sigla, o partido decidiu apoiar o PSOL em um estado: Roraima.
Por que isso acontece?
O emaranhado de siglas e apoios mostra como a eleição é centrada em nomes, não em projetos. E essa preferência por escolher pessoas não parte apenas do eleitor, explica o professor Ricardo Caldas, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol-UnB). “Se você olha para os partidos, verá que eles mesmos não fazem escolhas ideológicas, e sim, por pessoas”, afirmou.
“A maior parte dos eleitores não tem ideologia. As coligações apenas refletem isso.” – Ricardo Caldas, professor da UnB
Além disso, as alianças nos estados são feitas com base em interesses regionais – que nem sempre são iguais aos interesses políticos nacionais. “Os apoios levam em consideração aliados e inimigos políticos no estado”, acrescentou Caldas.
As alianças estaduais influenciam o voto para presidente?
Pouco, afirmou Caldas. O especialista não crê que o eleitor veja o jogo das alianças políticas estaduais como algo muito relevante. “As dinâmicas locais não interferem nacionalmente. O Brasil dá muita liberdade – um candidato ou partido não tem que apoiar todo mundo o tempo todo”, comentou.
O cientista político Pedro Fassoni Arruda, professor da PUC-SP, concorda e diz que se trata de uma “individualização do voto”. Para ele, a pulverização do espectro político em 35 partidos em um país extenso como o Brasil leva as siglas a não seguirem sempre a mesma linha em todos os estados. “Os partidos não são monolitos. Eles também têm conflitos intrapartidários.”
“A disputa em um estado não tem necessariamente a ver com a eleição presidencial, e essa é apenas uma das variáveis em jogo”, comentou Arruda.
Por que isso importa?
Porque os interesses eleitorais envolvem outros interesses, como aponta o cientista político Pedro Arruda.
“Construir alianças perpassa pela discussão de planos de governo e também de cargos. Passa por indicações, estatais, secretarias e base parlamentar”, explicou Arruda.
Caldas afirma que a definição das coligações se tornou uma “disputa de cargos” e “troca de favores”, e diz que “falta uma reforma política para dar um mínimo de consistência aos partidos”.
Fonte: G1