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Quem vê Sara da Silva dos Santos Pereira curtindo a recém-nascida Ruth nem pode imaginar pelo que passaram mãe e filha nos últimos meses. Isso porque o transtorno bipolar as acompanhou durante quase toda a gestação. Internada no Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) para tratar uma trombose, a paciente precisou, antes do parto, ser transferida para o leito de psiquiatria a fim de compensar uma grave crise.

Hoje, três dias após dar à luz, Sara está indo para casa. Sua alta hospitalar – de acordo com o coordenador do serviço de psiquiatria do HGRS, o médico Lucas Argolo – é resultado de um trabalho multidisciplinar capaz de oferecer atendimento individualizado a cada usuário. “Ela chegou em crise grave de mania psicótica, depois de passar três meses internada no Hospital Juliano Moreira sem conseguir compensação do quadro. Foi admitida no nosso leito há um mês e seguiu um cuidado individualizado em conjunto com a equipe de ginecologia e obstetrícia”, detalha.

O psiquiatra reforça, ainda, a importância da reunião de recursos de um hospital geral para atender pacientes com esse perfil: “a falta de equipe e de recursos para o acompanhamento de um quadro não-psiquiátrico impede a aplicação de condutas estritamente psiquiátricas. Por outro lado, a falta de acompanhamento psiquiátrico impede a aplicação de condutas não-psiquiátricas para diversos problemas de saúde. A falta de um ou de outro faz com que o tratamento seja insuficiente para um grupo de pacientes mais complexos”.

Sem nenhuma intercorrência, Sara teve Ruth por meio de parto normal. “Ela apresentou melhora progressiva e, com isso, completamos uma experiência brilhante e única que só o serviço de psiquiatria do HGRS pode ofertar. Estamos muito felizes e orgulhosos de poder renovar a estética do pensamento em saúde mental e fazer historia no SUS [Sistema Único de Saúde]”, completa Lucas Argolo.

O marido de Sara, o pedreiro Cláudio José Ribeiro Souza, também é só felicidade: “podemos dizer que é um milagre de Deus e dos médicos. Sara não é a mesma pessoa que chegou ao hospital e ela tem plena consciência disso, estamos muito gratos aos profissionais”.

Bipolaridade

O transtorno bipolar (ou transtorno maníaco-depressivo) afeta 1% da população, com distribuição igual entre homens e mulheres, aponta o psiquiatra Lucas Argolo. “Apesar de relatos antigos afirmarem que a gravidez é protetora contra transtornos mentais, isso é mito. Para os casos de transtorno de humor e psicose, o risco é sempre maior. Estudos mostram que a maioria das mulheres bipolares que engravidam tem um risco maior de recorrência da doença durante a gravidez e o pós-parto, com esse numero ultrapassando 70% na gravidez e ate 90% no pós-parto”, alerta ele.

Por se tratar de um binômio mãe-filho, o tratamento é mais complexo, exigindo a cooperação das equipes de psiquiatria, obstetrícia, neonatologia e os recursos diagnósticos e terapêuticos necessários à disposição de tais equipes. “A questão da interação entre problemas psiquiátricos e não-psiquiátricos em pacientes com múltiplas comorbidades extrapola a questão puramente obstétrica. Ela diz respeito a pacientes de todas as necessidades, clínicos e cirúrgicos, em todas as faixas etárias”, avalia o coordenador do serviço de psiquiatria do HGRS.

Serviço de Psiquiatria do HGRS

O modelo de trabalho da psiquiatria no Hospital Geral Roberto Santos envolve internação em dois leitos próprios dentro da enfermaria de clínica médica e junto às demais especialidades. Associado a isso, há acompanhamento continuado e de maneira conjunta a pacientes em todas as enfermarias, mediante necessidades. Diariamente, a média de pacientes acompanhados é de 12.

O serviço de psiquiatria do HGRS conta, ainda, com ambulatório para egressos. Com a participação de residentes do Hospital Juliano Moreira (HJM) e internos de medicina da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), o trabalho é inteiramente acadêmico, cumprindo, assim, o objetivo de transformar o Hospital Roberto Santos em um hospital-escola.

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